Meu bisavô com dois dos filhos. A mais antiga foto dos meus antepassados na minha posse. De 1920 assinada e datata pelo próprio
Segundo as crónicas, nasci no Hospital de S. João, acabado de construir, numa tarde quente de quinta-feira, dia 7 de Julho de 1960. Filho da Carolina, ex-funcionária ou operária numa fábrica de camisas, que tinha deixado de trabalhar quando casou, e do José, tipógrafo; neto de Eufrazina e de Joaquim, a avó, rio-tintense, operária numa fábrica têxtil, o avô, tirsense e mineiro em S. Pedro da Cova, também neto da avó Glória, natural de Paranhos, modista da alta sociedade do Porto, que nunca conheci (morreu em 1938) e de António, meu avô - natural de Viseu, o que me confere sangue Lusitano - cuja lembrança que dele tenho é de o ver preso a uma cama em casa do tio Carlos, irmão do meu pai, falecendo sem que eu tivesse tempo de o conhecer melhor.

Meu bisavô materno rodeado pelas filhas. A minha avó à esquerda
Deram-me o nome de António Manuel, Leite Lima de apelidos.
O Hospital, novinho em folha, proporcionava às mamãs óptimas condições e nas enfermarias onde hoje têm 8 camas, tinham 4 e uma atenção personalizada em que se incluía um rádio a cada cabeceira.
O protagonista
Os meus pais, recém-casados (sou primeiro e único filho), viviam ali num Bairro de nome Caixa Têxtil, em S. Mamede de Infesta, onde permaneceram até aos meus 2 anos de idade, mudando-se então para uma casa bem mais perto do Porto, num pequeno bairro ainda em S. Mamede, onde cresci até aos 10 anos e construí as minhas primeira recordações de infância. Apesar de muito do meu tempo também se ter passado no local da primeira residência, onde ainda viviam a tia São e o tio Carlos, irmãos do meu pai (o pai ainda tem outra irmã, a minha madrinha Fernanda, ainda viva) e por isso também os meus primos.
Assim (como acho que com todos) as primeiras brincadeiras foram com os primos. O Ismael, a Antonieta, que eram praticamente da mesma minha idade, e se juntavam a mim para atazanar a alma dos mais velhos, a Lela e o Manel, que na falta dos pais tínhamos respeito, e eles faziam questão de nos lembrar disso! A Mina, a Linda, o Carlos e a Lola que por serem mais próximos de nós nem fazíamos caso ao que diziam, os mais novos, o Marito e o Zé que eram os alvos das brincadeiras que um dia nos fizeram a nós e ainda o Quim e o Pedro, namorados da Lela e da Mina que por tabela também participaram na nossa educação.
Os pais no dia de casamento.
Também na foto, o meu padrinho António e a filha, a minha prima Fernanda
Mas as primeiras verdadeiras recordações são da casa da rua Padre Costa, um pequeno bairro de 10 habitações, 5 rés-do chão e 5 no primeiro andar, era, como se diz agora “condomínio fechado”, a entrada principal fazia-se por um portão pequeno que dava para um pequeno jardim e daí para a casa, subiam-se umas escadas e aí havia um hall que dava acesso, à esquerda para os dois quartos e uma casa de banho e à direita para um quarto onde muitas vezes dormia a minha avó Frazina (e eu ficava ali aconchegado nela) e à cozinha que tinha uma varanda e uma escada que dava para um pequeno quintal, onde se plantavam umas pequenas hortaliças, que por vezes eu e os cães estragávamos por acidente....e para um pátio comum onde brincávamos com os nossos vizinhos, dos quais só me recordo de alguns por terem a ver com factos marcantes. O primeiro, porque na brincadeira acabei por partir um braço e ir parar a uma mesa de operações e outro, com o Valente - grande benfiquista, andava sempre a fazer defesas à “Zé Gato” (José Henriques, guarda-redes do Benfica à época) - alvo de uma brutalidade muito grande por parte dos pais, com correcções constante e tareias de cinto e à paulada, em que vinha o pai tirar o filho das mãos da mãe, que o espancava, para ainda o espancar mais. Esse rapaz tinha uma irmã, que, contrariamente ao irmão, era o alvo de todos os mimos. Impressionou-me particularmente um episódio em que os dois se envolveram numa disputa, na qual o rapaz, a meu ver, tinha razão. Mas como sempre ela é que foi coroada, ele mais uma vez espancado...na primeira oportunidade tratei do assunto e dei umas surras valentes à Valentina. Ela foi a chorar para casa e eu fugi para a minha. Ora eu que, se me lembro, levei um par de estalos do meu pai e umas palmadas da minha mãe, ia ver ali o meu amigo ser injustiçado a toda a hora!? A minha mãe compreendeu e escapei só com um ralhete para fazer figura!
Os avós Glória e António
Do outro lado da rua, havia uns campos, nesse tempo de um lavrador de nome Alexandre, o “lexandre”, onde eu, os meus amigos e as nossas mães e avós passávamos as tardes quentes de Verão...jogávamos à bola, às caçadinhas, às escondidas e numa dessas tardes, por eu ter muita sede, a mãe mandou-me a casa fazer um refresco e nesse tempo a aguardente também servia para os fazer (grande heresia nos tempos que correm) e por vezes os mais novos já bebiam esses refrescos...ora aqui o Toninho exagerou na dose e quando chegou à beira da mãe as coisas não paravam quietas...nem eu de pé...: - o que tem o rapaz? Perguntavam umas às outras...até descobrirem que o refresco tinha mais aguardente do que água (foi o meu primeiro shot!).
Os avós Eufrazina e Joaquim
Outra grande recordação da vida nos campos, foi quando vieram as doenças normais da infância, sarampo, papeira e essas todas...numa delas (acho que foi na papeira), a que eu ouvia chamar de “tresourelho”...tive de ir à canga!!! Ora o que é isto? Simplesmente ao fim do dia de trabalho do gado tiravam a canga aos animais e aproveitando aquele calor enfiavam o nosso pescoço onde antes tinha estado um dos bois...ainda hoje penso se aquilo era para me curar? Pois se o outro animal ainda lá estava!!! Eu, cheiinho de medo...mal me tiraram de lá quando o animal que me fez companhia se pôs aos pinotes e eu a imaginar se ele tivesse feito aquilo quando eu ainda lá tivesse a cabeça! Acho que foi o primeiro susto da minha vida!
com a mãe
A minha avó Frazina dividia-se entre a sua casa em Rio Tinto e a nossa. Na minha mãe começava-se a manifestar a bronquite asmática, que viria a acompanhá-la (e a nós) pelo resto da vida e ficava muitas vezes impossibilitada de fazer as coisas e por esse motivo a minha avó acompanhava-nos. No entanto, como ia ao fim do dia para casa, lá me levava a pé desde ali até casa dela, em Rio Tinto. Claro que nem chegados à Areosa já tinha de me levar ao colo, quando o meu avô Joaquim não me vinha buscar na sua velha bicicleta, com aqueles cestinhos de verga na retaguarda onde me levava.
A casa dos avós, bem mais modesta, tinha uma cozinha com o chão ainda em terra, onde também se faziam as refeições e um quarto, a retrete reduzia-se a umas tábuas de madeira com um buraco directo à fossa e ficava numa divisão de fora. De noite, para o mesmo efeito, havia o penico, mas ali na cama do meus avós, no meio deles sempre me senti acarinhado. O meu avô cozinhava, lembro-me bem que a minha avó era mais de andar na horta...e eu tinha um ancinho com o qual ajudava, e estragava também, a abrir os reguinhos para a água que alimentava a horta toda.... Não fui neto único destes avós mas, como os meus primos, o José Luís e o Joaquim (ainda não nascido) filhos do tio Toneca, irmão da minha mãe, e da tia Laurinda, estavam emigrados na África do Sul, eu durante muitos anos fui o neto presente.O fluxo migratório para este país era por volta de 1965 bastante elevado.
Razões culturais, espírito de aventura e sobretudo condições de vida superiores, levam a que os portugueses se espalham pelo mundo. Desde o séc. XV que os portugueses emigram acompanhando as conquistas, as descobertas e a expansão marítima. Com a descoberta da ilha da Madeira e Porto Santo, dos Açores, com as conquistas das praças do norte de África, ao longo do caminho marítimo para a Índia, são muitos os locais em que os portugueses se estabelecem ao longo dos séculos. Na América Latina, Brasil e Venezuela começam, no final do séc. XVI, a substituir o Oriente na preferência. A política colonial do Estado Novo também fomenta a colonização das (antigas) províncias ultramarinas, nomeadamente de Angola, Moçambique, Guiné e os Estados Indianos de Goa, Damão e Diu, onde a contestação à colonização se começa a sentir, quer pelos movimentos locais, quer pelas potências vizinhas dos territórios que reclamam para si a soberania. A partir do final dos anos 50, a França, Alemanha e Luxemburgo recebem mais de 1 milhão de portugueses, ao ponto de Paris de tornar a 2.º cidade com mais habitantes portugueses, superando o Porto. A partir dos anos 60, para fugirem à guerra colonial muitos jovens emigram, na esperança de escapar ao recrutamento. Mais recentemente, Portugal tornou-se, também um país de imigração, sobretudo originária do leste europeu, do Brasil e também da China, entre outros.
Se as migrações foram sempre uma necessidade das pessoas, inicialmente elas eram efectuadas a pé, depois com o recurso à força dos animais e com a descoberta de novos continentes, o mar foi utilizado como forma de as pessoas se deslocarem. O aparecimento do caminho de ferro, que se estendeu rapidamente, permitiu a deslocação mais fácil e mais rápida das pessoas e tornou as migrações mais fáceis. Já mais recentemente a descoberta do petróleo permitiu o aparecimento do automóvel e do avião. Redes de estradas, aeroportos apareceram por todo mundo e permitiu, ainda mais a deslocação das pessoas.
Opel Kadett de 1964
Lembro-me também de um carro que o meu pai tinha, um Opel Kadett e naquele tempo era raro as pessoas terem um e naquele sítio onde vivíamos era quase único! Tínhamos também televisão, mas só tinha um canal e nem por isso emitia todo o dia: a RTP, acabava por volta da meia-noite, sempre da mesma maneira: a bandeira portuguesa a flutuar e com o hino nacional em som de fundo. Por vezes, ao sábado emitia os bonecos animados, o super-rato, o mickey e a minnie, mas não víamos mais nada. O telejornal e os poucos filmes da altura eram-nos vedados e também pelas 21 h, 30 m já estávamos na cama...Brinquedos? Como prenda no sapatinho tinha um carrinho de James Bond, pouco maior do que os matchbox e depois ainda havia uns carrinhos de folheta muito engraçados. Ainda hoje há coleccionadores desses modelos. A tia Aurélia, tia do meu pai, tinha uma loja, no Campo Lindo que vendia estes carrinhos e quando eu e a minha mãe a visitávamos dava-me um e eu, malandro, surripiava-lhe outro debaixo da camisola. Por vezes, quando íamos às romarias, o pai comprava-me um brinquedo de madeira, um ciclista que com o movimento provocado pela roda no passeio movia as pernas.
Brinquedo de madeira
Fui eu para a escola do Valente (não é o mesmo), uma pequena escola particular (?!) o projecto do que agora são os jardins-de-infância, governado pelo Sr. Valente e pela D. Tininha. Se o Sr. era o mais simpático dos velhotes, a D. Tininha era um horror de fugir, aliás, foi o que aconteceu ao segundo dia, saí dali e vim para casa, quando cheguei, a minha mãe fez o sermão mas com ela tudo bem. O problema seria o pai quando chegasse, mas não: - "O rapaz não quer, não vai, vai para a escola oficial em Outubro”. A única recordação daqui foi a figura dos dois no alto do palanque no fim...ou seria o princípio da sala? Umas fotos que eu não sabia de quem pendurados mais acima e um crucifixo no meio e num canto ao fim do recreio, duas paredes: uma alta e uma mais baixa paralela a primeira e afastada para frente uns 15 cm e era onde fazíamos o xixi, para o meio das duas paredes. Mais uns buracos numas tábuas ali ao lado. Acho que nem havia portas, se calhar para prevenir algumas coisas!
chocolate que voltou a aparecer nas bancas
Chegado Outubro, lá fui eu para a primeira classe da escola oficial ali nas Arroteias, aquela escola típica do Estado, lá estavam as mesmas fotografias e o mesmo crucifixo. Havia um lado para os meninos e outro para as meninas e nem no recreio se cruzavam. A mãe tinha preparado o lanche, um pão com marmelada, ou compota feita em casa, como era habitual. Por vezes, raramente, levava um "comacompão", um chocolate, especialidade da altura.
Marmitas antigas e modernas
Hoje, os miúdos levam como lanche (os que levam!) bolicaos e leites achocolatados, começando desde muito novos a viciar-se na famosa fast-food, ou comida de plástico. Para devolver o sabor perdido no seu desenvolvimento, os produtores colocam grandes doses de gordura, sal e açúcar nestes alimentos. O resultado é obesidade, problemas vasculares, doenças dentárias, aumento de colesterol e da tensão arterial, diabetes, cancro entre outras doenças, que atingem cada vez mais crianças, adolescentes e adultos. Podem argumentar acusando a vida caótica dos tempos modernos e da falta de tempo para refeições equilibradas ao longo do dia, tendo necessidade de recorrer aos alimentos rápidos disponíveis em cafés, restaurantes ou centros comerciais, mas levar uma pequena merenda de casa, ou mesmo levar uma refeição completa, além de fazer melhor à saúde, poupam muito dinheiro. Mas as "marmitas" tornaram-se, em Portugal, um objecto desactualizado e sinónimo de uma classe menos favorecida e a vergonha de as transportar levou a cairem em desuso. Em muitos países, bem mais desenvolvidos, é um hábito para quem passa a maior parte do dia fora de casa. E já as há bem modernas, bonitas, até apropriadas para serem reaquecidas em micro-ondas ou mesmo incorporando uma resistência eléctrica que as tornam autónomas em aquecimento, bem diferentes daqueles objectos que parecem panelas.
Os batas brancas
Lembro-me da Professora Esmeralda, a minha primeira professora, com uma bata branca, eu tinha uma também e mais um colega (não me lembro do nome dele!, mas gostava de o encontrar um dia!), éramos os únicos. Os outros andavam com as roupas do dia-a-dia. Lembro-me também de um magusto...levamos umas saquinhas de castanhas e claro, uma garrafinha de vinho (que pecado, mas era assim!), e lá assamos as castanhas e acho que as comemos porque nem me lembro dessa parte.
Foi no ano em que o Papa Paulo VI visitou Portugal e por inerência todos os alunos passaram de classe administrativamente. Por aí, ficaram os estudos de muitos, mais velhos, que frequentavam a escola há imensos anos. Eu passei e saí dessa escola para ir para o Externato Camões, em Rio Tinto, primeiro porque as condições económicas da família eram boas (o meu pai estava estabelecido na rua de S. Brás com uma tipografia), segundo porque, também diziam, era uma educação diferente...e como a avó vivia perto, acompanhava-me muitas vezes. Ia-me buscar para o almoço e quando me custava a comer a sopa, lá vinha ela para a linha de comboio dar-ma às colherzinhas, enquanto esperávamos que o comboio passasse, contrariando o meu avó que dizia: - "habitua-lo mal!!" Mas quando não era a avó era o avô.
Também não guardo muitas mais recordações deste Externato (só que passados uns anos imprimi os convites para as bodas de ouro dos proprietários enquanto o meu pai tinha impresso os das Bodas de Prata).
Estereoscópio
E lá fui eu parar ao Colégio João de Deus - responsável por grande parte da formação que tenho hoje - para a terceira classe. Na rua de Santa Catarina, o colégio funcionava em dois espaços distintos: um para a primária, compunha-se de 4 salas de aula e um recreio fechado e outro espaço virado para a rua da Alegria, onde funcionava o restante ensino, desde o 1º ano do ciclo preparatório até ao 7.º ano (hoje 11.º), onde nós, pequenos, nos aventurávamos a ir de vez enquando.
Cá em baixo, os mais pequenos, com o professor Moreira e o professor Vítor....e o director, padre Germano, que olhava por nós e nos responsabilizava pelos actos e acções que praticávamos... também nos incentivava a pensarmos por nós próprios e a defender as nossas ideias até ao fim, quer fosse na presença de colegas, professores ou mesmo directores. Com a devida educação éramos livres de falar livremente. Ao outro director, padre Albano, só o víamos quando vinha à varanda e nos atirava uns caramelos espanhóis que eram disputados pela turbe como um troféu. Quantos joelhos arranhados ele arranjou! E por aqui fiz a terceira e a quarta classe com estes professores e se do Prof. Moreira não há nada a referir, do prof. Vítor há e muito. Figura esguia aí dos seus 45 anos, penteado à moda da altura, brilhante, fato impecável, camisa branca e gravata escura, tanto era o anjo como o diabo e se poucas vezes contei os olhinhos havia colegas que eram alvo de preferência.
Lembro-me perfeitamente do Silva, mais alto do que eu, fininho. Certo dia, estávamos na sala e na passagem do professor, que circulava entre as filas de carteiras, caiu um grande estalo sobre o Silva e rapidamente um pedido de desculpas, repetido um sem número de vezes. Afinal, como ele andava mais atrasado do que o resto da turma estava a fazer cópia e não caligrafia (na cópia copia-se palavra a palavra e na caligrafia letra a letra), o professor esqueceu-se e...mas ficou-me mais na memória o pedido de desculpas do que a bofetada – os grandes sabem reconhecer os seus erros rapidamente.
Do prof. Vítor, ficou também a recordação de pela primeira vez, ver imagens tridimensionais nuns aparelhos de metal (estereoscópios), uma maquineta que tinha um suporte em que se colocava duas imagens da mesma fotografia e uns óculos por onde se espreitava e aquilo transformava-se em imagens a preto e branco, mas em 3D...uau! que espectáculo. Pedi uma coisa daquelas aos pais, tive o view-master.
O view-master
O view-master tinha a mesma função, mas era mais avançado. Uma pequena máquina, onde se inseria um disco com várias imagens (também duplicadas) e ao carregarmos num botão de prisão rodava para a seguinte e víamos ali o super-homem, o batman, o nacional geographic, as cidades capitais europeias, a China, tudo, a cores e em 3D. E aqui vai o Lima chamado ao padre Germano por não saber a tabuada. Mas em vez de me dar uma reprimenda, deu-me uma cábula! Um quadrado com 10x10 quadrados mais pequenos com mais uma carreira no topo e no lado esquerdo numerados de 1 a 10. Somando as carreirinhas, escrevíamos a tabuada num ápice, mais uns rolinhos de papel. Estávamos na quarta classe a preparar o exame que seria feito na escola pública, ali na Fontinha.
Uns meses antes, um dos senhores dos retratos caiu da cadeira, soubemos nós e passados uns tempos, puseram lá uma fotografia de um outro senhor. Começavam a ouvir-se mais uns rumores, a curiosidade de ver televisão e com autorização de estar mais tempo acordado, permitia que ouvíssemos mais notícias. O meu pai trouxe um rádio enorme para casa e à noite mexia constantemente nos botões para ouvir as notícias da BBC e de uma rádio que emitia da Argélia. – "Então as notícias dessas rádios não são as mesmas das outras estações que a mãe ouve?" "Não!". A mãe ouvia rádio durante a tarde e por vezes com a companhia do matraquear de um velha "Singer" onde arranjava a nossa roupa. Não sendo ainda muitos os "pronto-a-vestir", as roupas eram confeccionadas, por medida, nos alfaiates e modistas, por isso a mãe, fazia as camisas para mim e para o pai.
Máquina costura "Singer". Ainda na minha posse, faz uma bonita mesa de apoio.
Mil novecentos e sessenta e nove, o ano do tremor de terra, não só abalou fisicamente Portugal, mas tambem politicamente. Começavam a surgir as primeiras contestações ao poder estabelecido, não só em círculos mais fechados, mas agora o “povo povo” começava a compreender a situação. A guerra nas colónias começava a fazer mossa tantos eram os filhos, maridos, irmãos mortos em combate. Quase todas as famílias, estrutura base do regime, tinham queridos nas províncias ultramarinas, e em quase todas se abatia a desgraça de os perder, se não fisicamente, psicologicamente como se veria uns anos mais tarde. Dos meus primos, mais velhos, alguns combateram e felizmente todos voltaram com vida e sãos, pelo menos aparentemente (ou não!).
A tabuada de carreirinha
Coimbra, Praga, Maio, Argélia, eram palavras soltas que ouvíamos muitas vezes sem compreender muito bem o significado. O pai chegava a casa e dizia à mãe: – Estiveram lá outra vez; quem? Pai! – Ninguém, ninguém, deixa lá. Soube mais tarde que os senhores da polícia faziam visitas regulares à tipografia, em busca de qualquer coisa que se tivesse impresso e que estivesse contra o regime, livros, jornais, propaganda. Ao contrário de hoje, as notícias importantes circulavam em pequenos jornais impressos durante a noite, clandestinamente. De porta fechada e luz no mínimo, quantas vezes em máquinas a pedal, porque faziam menos barulho e não gastavam electricidade. As buscas da polícia, serviam para procurar qualquer coisa que tivesse ficado esquecido, um bocado de papel que tivesse caído para o chão, uma chapa (molde tipográfico), qualquer coisa que pudesse incriminar as pessoas e permitisse enviá-las para a cadeia (como se em muitos casos fosse preciso isso!). As pessoas eram presas sem culpa formada – e mantidas lá por tempo indeterminado.Felizmente, não tenho memória do meu pai ser preso. Acho que para lá de se ter que deslocar à polícia para responder, nunca teve mais problemas além desses.
Caderneta bancária
Pela primeira vez, é-me permitido ficar acordado a ver TV até altas horas da manhã. Pela primeira vez, a RTP emite pela noite dentro. Um acontecimento mundial está prestes a acontecer. Pela primeira vez o Homem pisa a Lua. No auge da Guerra Fria, os Estados Unidos superam a União Soviética. Mas seria verdade? A URSS tinha colocado um homem em órbita terrestre uns anos antes, e os EUA tinham prometido, nessa altura, que poriam um homem na lua no prazo de 10 anos; o prazo estava a acabar. Corriam sozinhos, porque inexplicavelmente ou não, a URSS nunca apontou no sentido de conquistar a lua continuando a colocar homens em órbita. Hoje muitos contestam a veracidade da alunagem, pelo menos na data anunciada, apontando vários motivos para duvidarem desse feito. Nas fotos divulgadas, apontam um rol de contradições ! Verdade ou não, a transmissão do acontecimento via TV foi visto por milhões em redor do mundo, sendo talvez o acontecimento com mais audiência até aquela altura.
No João de Deus, assinalados: eu à direita, à esquerda Pedro Abrunhosa e o Silva, o mais alto à direita
O pai também se dedicava à pesca desportiva. Competia com amigos ao fim-de-semana quer no mar, no rio ou em terra! É, a sério! Divertiam-se a ver quem atirava a chumbeira mais longe. Arranjavam um campo grande e iam para lá lançar um pedaço de chumbo de 50, 100 ou 120 grs. preso a uma linha de pesca. Era uma arte que até chegaram a praticar no antigo Estádio das Antas, já que faziam parte da secção de pesca desportiva do Clube.
Ao sábado de tarde e domingo normalmente a mãe e eu acompanhávamos o pai nestas deslocações e se ao sábado a pesca era pertinho de casa, aos domingos faziam muitos quilómetros para ir pescar. Levantávamo-nos de madrugada e lá iamos os três estrada fora. Amarante, Marco, Abrantes, Tomar, no rio Douro, Ave, Mondego, Lima, eram poucos os domingos em que não se saía para a pesca. Aí, conheci um rapaz um pouco mais velho do que eu, filho de um amigo do meu pai - o Tó-Zé - ainda éramos uns miúdos eu com 10 anos ele mais velho 3, e fomos amigos de domingo durante muitos e bons anos. Mais tarde, pescamos juntos copiando o vício os nossos pais e fomos os dois campeões de juniores de pesca, ele num ano eu passado dois. Um dos amigos do meu pai, o Sr. Fernando, era o alvo de uma das minhas brincadeiras preferidas na pesca - encher o cesto dos pescadores com grandes gôdos, daqueles bem pesados e eles ou não viam mesmo, nem sentiam o peso excessivo ou nem queriam ver e levavam os godos para casa. No fim de semana seguinte: – "Oh Zé! O teu filho encheu-me o cesto de godos outra vez" ...diziam eles ao meu pai. – "Tenho lá uma colecção deles...quando fores lá a casa ele vai levá-los todos"...gargalhada geral...o certo é que lá os tinha num cantinho do quintal. Mas nunca cumpriu a ameaça!
As victórias
Juntamente com a minha mãe, só a D. Tina, mulher do Sr Fernando, e a D. Lola, mãe do Tó-Zé, mulher do Sr. Costa, iam com os maridos para a pesca. Como passavam ali no meio do nada parte do Domingo, a D. Glória tirou a carta de condução, a seguir a mãe fez o mesmo e então com a mãe ao volante lá íamos passear as redondezas dessas cidades e vilas, enquanto o pai pescava.
Era também o tempo de coleccionar as “victórias”: uns cromos que eram os próprios invólucros do rebuçado, rebuçado? Um pouco de açúcar em ponto. O bacalhau, o carneiro e a cobaia eram os mais difíceis de sair e por isso, por vezes, andávamos há semanas a coleccionar já outra caderneta sem ter acabado a anterior e trocávamos por vezes umas dezenas de outras figuras por uma daquelas. É que acabando a caderneta, recebíamos uma bola de futebol à seria, daquelas de couro, com um cordão a fechar, depois quando a cabeceávamos ficávamos com as marcas do cordão marcado na testa! Os supermercados, hipermercados e afins ainda vinham longe de aparecer e as compras semanais eram feitas ou no mercado da Areosa ou no do Bolhão. Naquele tempo, dizíamos: – "Vamos ao Porto!" Como se fosse uma grande aventura. As mercearias de rua tinham um pouco de tudo e o arroz, o açúcar, a massa eram comprados lá, a granel. Por vezes, íamos nós, os rapazotes, à mercearia, a recado das mães, buscar isto ou aquilo para o almoço ou para o jantar e lá comprávamos as “victórias” a meio tostão cada (um escudo eram 10 tostões) e por vezes aquela barrigada de rebuçado fazia efeito e lá andávamos nós com dor de barriga. Fiz uma ou duas colecções de “vitórias” e lembro-me de a mãe me ajudar a colar as estampilhas na caderneta...mas por isto ou aquilo a cola colou bem demais e as folhas da caderneta ficaram todas coladas umas às outras...quando endureceu parecia um tijolo. Ficou por aí a minha tendência para as colecções.
Ao irmos às compras, levávamos as ceiras (grandes sacos feitos de palha) para as trazermos para casa. Não era habitual nas mercearias e bancas de mercado darem-nos um saco plástico para transportarmos os produtos para casa. O feijão, o grão ou o açúcar, normalmente comprados a granel, eram acondicionados em cartuchos de papel grosso que eram bem mais ecológicos do que as actuais embalagens em plástico, em que a maioria dos produtos são embalados. As quantidades enormes de sacos em plástico, que os supermercados e hipermercados nos colocam as compras, são utilizados como receptáculo de lixo doméstico, acabando nas lixeiras e em muitos casos espalhados nas ruas e nos cursos de água.
Não é novidade para ninguém que todos os anos milhares de aves marinhas, tartarugas e golfinhos apareçam asfixiados por sacos plásticos e que já se encontraram baleias com toneladas de sacos no seu estômago. Cheias devastadoras são causadas por entupimento de esgotos por sacos plásticos. A sua produção emite gases poluentes para a atmosfera e a sua reciclagem tem sido um grande problema. Calcula-se em cerca de 150 sacos de plástico por pessoa produzidos todos os anos e alguns países já proibiram o seu uso intenso ou criaram taxas de reciclagem ao consumidor, além de proibirem o fabrico de sacos abaixo de uma determinada espessura, para os tornar mais caros e fomentar a sua reutilização. Agora, já existem alguns supermercados que nos cobram pelos sacos, mas bastava as grandes cadeias de distribuição cobrarem um preço elevado ou em alternativa os substituírem por sacos de papel, para os consumidores começarem a levar os seus próprios sacos de pano ou de ráfia ou mesmo reutilizarem os das compras anteriores. Algumas lojas discount já põem à disposição dos clientes as embalagens de cartão em que os seus próprios fornecedores transportaram as mercadorias em grosso para a loja. Da próxima vez que for às compras não se esqueça leve os seus próprios sacos - vai contribuir para um planeta melhor (veja este artigo). Desde 1 de Janeiro de 2011, em Itália estão proibidos os sacos de plástico. As embalagens tem de ser em papel ou outra substância ecológica. Utilizavam 20 milhões de sacos por ano.
Outras coisas eram compradas ao “azeiteiro” – um homem que trazia assim uma espécie de caixa fechada em cima de uma carroça puxada por um burrito, abria uma das abas laterais da caixa e trazia lá azeite, azeitonas, tremoços e as senhoras do local reuniam-se por aquele bocado à volta da carroçinha comentando a vida. O leite, íamos ao fim da tarde, com as leiteiras (vasilhame de alumínio que se utilizava para o efeito) na mão, buscá-lo ao lavrador, acabado de tirar das vaquinhas.
Os "furos"
Num dos recados à minha mãe, apareci em casa com uma garrafa de vinho espumante... – onde foste buscar isso, rapaz? perguntou a mãe. – Ora! do furo - pequenos placas de cartão com furos e depois cobertas com um papel. Com um bico procurávamos no papel onde furar e caía uma bola colorida que estava lá escondida e segundo a cor da bola saía um prémio estipulado no escaparate – que te pedi para fazer, respondi eu. – Não acredito! Vamos lá confirmar isso! Acho que me zanguei com a mãe nesse dia! Não era costume duvidar de mim!
Mundo de Aventuras
A banda desenhada era um dos entretimentos nesta altura, eu pedia ao pai para me comprar o “Mundo de Aventuras”, dos quais ainda hoje guardo parte deles. O "Mundo de Aventuras" era uma semanal colecção de revistas de BD que já vinha sendo publicada há muitos anos. Conheci heróis do papel que depois passaram ao cinema, como Homem-Aranha, Flash Gordon, Fantasma ou Mandrake. Por vezes, as histórias tinham continuidade na semana seguinte e lá andavamos nós ansiosos pelo número seguinte.
A censura do regime actuava fazendo com que certos balões de legendas fossem exageradamente grandes para esconder cenas de maior ternura ou de violência! Em contraste com os dias de hoje, em que alguns dos jogos para as playstation, contêm imagens de uma violência sem limites (ver comentário a um dos últimos jogos lançado no mercado). Ainda estamos para perceber porque alguns pais impedem os seus filhos de verem programas mais ousados, que são emitidos na televisão por cabo ou colocam filtros nos computadores para eles não acederem a certos sites e oferecem-lhes este tipo de jogos, autêntico sadismo mental!
Acho que nos dias de hoje não se publica banda desenhada em Portugal.
Eu continuo a estudar no João de Deus, faço o exame de 4.º classe e começo uma etapa diferente - 1.º ano do ciclo preparatório.
Autocarro de dois pisos
Estranho. Um professor para cada disciplina, matemática, português, história, e por aí adiante. Já estávamos naquela parte reservada aos “grandes”.
O pai trazia-me de manhã para o colégio, vinha-me buscar antes do almoço e íamos a casa, trazia-me ao princípio da tarde e pelas 16 h 30 m eu apanhava o autocarro na rua de Camões - “carreira E”, que fazia a carreira da Avenida do Aliados para o Hospital São João e depois calcorreava pela Arroteia até chegar a casa - uma verdadeira aventura para mim. Por vezes, a avó vinha ao meu encontro e tudo se tornava mais doce!
Bilhete de autocarro, picado pelo cobrador
Mas as manhãs eram compridas, um dia achei que já eram aulas suficientes, decidi vir embora. Esperar o pai à porta do colégio...ele nunca mais vinha, eu tinha uns trocos para apanhar o autocarro no fim das aulas da tarde e, vai daí, pés ao caminho - o pai esqueceu-se, pensei eu! - Apanhei o autocarro para casa - azar! o autocarro avariou no caminho - as pessoas saíram para apanhar o substituto e eu, inocente, fiquei lá em cima - o autocarro era um daqueles de dois pisos - até que, por qualquer motivo, o motorista e o cobrador (o "pica" como nós o chamávamos - o homem que nos vendia o bilhete, já nós estávamos sentados no autocarro - nada de maquinetas automáticas nem andantes) repararam em mim. Meteram-me noutro autocarro para o destino. Claro que quando lá cheguei, ninguém esperava por mim – andavam já todos aflitos à minha procura. Ainda levei umas palmadas por fugir da escola (eu não fugi, eles é que pensaram que eu o fizera).
Na comunhão e os catecismos
Foi também o ano da 1.ª comunhão. A direcção do colégio organizou uma cerimónia para nós, alguns alunos, que como eu não frequentavam a catequese da igreja paroquial, (muitos não frequentavam a escola, muitos só o faziam até à 4.ª classe e a catequese era a única formação social de muita gente). Além da religião, alguns, ensinavam práticas úteis no dia-a-dia das pessoas. Pena é que não a soubessem adaptar aos tempos actuais. A contracepção, o aborto e outros temas mais sensíveis poderiam ser abordados nestes encontros de jovens, quando ainda, em certos meios, esses temas são tabu, em casa com a família. Se pensam que foi mais fácil desenganem-se, tivemos de estudar tudo aquilo num ápice.
Havia uma disciplina de moral e religião. Estávamos num colégio dirigido por padres, era muito normal isso acontecer, mas as nossas aulas não se resumiam à religião, mas também aos bons costumes, o saber estar e comportar em qualquer sitio onde estivéssemos, as aulas de etiqueta. Agora acham foleiro estas coisas, mas sabermo-nos comportar em qualquer sítio é uma grande vantagem. O saber estar numa mesa, o sabermos abrir a porta a uma senhora, o sabermos lançar um piropo a uma menina sem ser inconveniente e em Portugal a cultura do piropo está muito pouco educada, ultrapassando a brejeirice. O saber distinguir a maneira de nos dirigirmos a qualquer pessoa. O uso dos termos correctos nos locais e contextos necessários. A diferença entre a Senhora Ana e a Senhora, a diferença entre a Dona Maria e a Dona, quando utilizar o você ou o senhor ou senhora...Quantas vezes se ouve, , mesmo nos meios de comunicação social, quando se referem ao Presidente da República; o "Cavaco". Não! Ou "Professor Cavaco Silva" ou simplesmente “o Presidente da República”. Isto aprendíamos nós no básico da nossa educação social e moral. Perguntar por “a sua mãe como está? ou perguntar pela senhora sua mãe como passa?. Irá sentir, na próxima vez que o fizer, que começa a ser tratado com outra deferência pelo vosso interlocutor!
Por sabermos ser genuínos sem ser abertamente espontâneos não deixámos de ser verdadeiros. A espontaneidade é necessária nos nossos círculos mais próximos de amizade, mas em círculos mais afastados devemos refreá-la, quer nos gestos, quer na maneira de rir e mesmo na maneira de apresentar as nossas ideias. Devemos ser genuínos, não deixar nada por dizer, mas refrear a maneira como se diz. Hoje, e os exemplos vêm de cima, qualquer membro do governo, qualquer mero presidente de uma junta de freguesia, acha-se no direito de publicamente criticar o Senhor Presidente de República, em termos quase arruaceiros.
O meu pai, que tinha a tipografia em S. Brás, começou a pensar em deixar a sociedade que mantinha com mais duas pessoas e continuar sozinho...ou ficando sem sócios na que tinha ou saindo e irmos para outro lado, depressa o fez...
Viemos então para o Porto, para a rua de Costa Cabral, onde o meu pai começou uma tipografia num armazém, morar para um apartamento mesmo por cima da oficina. Tinha 10 anos, os meus amigos ficaram para trás e começamos uma grande maratona neste local.
Eu e o Rex
Passaram poucos meses até ao primeiro grande desgosto da minha vida. Só sentimos a falta depois de as perdermos...o meu cachorro, o Rex, que tinha sempre vivido comigo. Eu tinha dez anos e ele nove, morreu atropelado ali na rua. Habituado ao ambiente semi-rural da antiga casa, não se adaptou ao apartamento fechado e fugia vastas vezes. Numa delas aconteceu, ficou debaixo de um carro. O meu “canito”, companhia de sempre não estava ali comigo, estava estendido num canto mais abaixo. Durante muitos anos, não fui para aquele lado da rua - em direcção à Areosa – e ainda hoje prefiro ir em direcção contrária. Talvez por isso as minhas amizades foram feitas para o lado contrário, em direcção ao Marquês.
Na rua, ainda passava o eléctrico e andavam a mudar as linhas para o troleicarro, transporte público que durante anos fez carreiras em toda a cidade – silenciosos, limpos e amigos do ambiente. Passados alguns anos alguma inteligência da cidade, decidiu acabar com eles para por a rolar autocarros movidos a gasóleo, poluentes e barulhentos.
Peças lego
Ao contrário da casa antiga, tínhamos distribuição do leite e do pão à porta de casa. A mãe deixava a saca (de pano) engalhada na porta e de manhã tínhamos lá o pão. Para o leite, umas camionetas deixavam umas cestas metálicas com umas dúzias de garrafas ao longo das ruas e nós iamos lá abastecer e deixar o vasilhame. Ao sábado lá apareciam para receber. Durou pouco esta situação: se por um lado eram roubadas muitas garrafas de leite e algumas sacas de pão, por outro começavam a surgir os primeiros supermercados (lojas em que nos abastecemos sem auxílio de um vendedor). Uma verdadeira novidade a contrastar com o merceeiro atrás do balcão.
Também começa a ser vulgar a sistema de tara perdida. Até aí o vasilhame tinha um depósito pago que era devolvido aquando do seu retorno. Agora, é para deitar fora. Os grandes produtores de bebidas (seguindo a moda?!) deixam de recolher o vasilhame. A seguir outros produtores seguem o exemplo! Certamente, é mais barato comprar embalagens novas do que reciclar as usadas! Deixam para o erário público e por conseguinte para o contribuinte a tarefa e o custo da reciclagem, lucrando milhões com este sistema, mesmo pagando a taxa “ponto verde”, criada recentemente. Para além do evidente prejuízo para a natureza pela elevada quantidade de matéria-prima que se desperdiça.
Livros RTP
Começo a ler os primeiros romances. Uma série de livros que acompanhavam como oferta um detergente que a mãe comprava. Os célebres romances de cordel de Corin Tellado. Pouco tempo depois salto para uma colecção do pai – “Livros RTP” e logo com Dostoievsky. Fico fascinado pelo “Jogador”. Acho que esta colecção faz disparar a venda do livro em Portugal, estendendo essa venda a quiosques e tabacarias onde até aí não era normal venderem livros. Descubro também Camilo e Júlio Dinis. Faltava pouco tempo para encontrar as Novas Cartas Portuguesas e os contos de Mariana Alcoforado, que tanto problema deu na altura. Às autoras, já que o livro foi considerado imoral e pornográfico e, por isso, censurado pelo regime e a mim que levei uns valentes ralhetes dos pais, por não o considerarem indicado para a minha idade. Curiosamente ou não, ficou bastante danificado do uso que lhe dei.
Por receio, os pais e a avó não me deixavam andar tanto à vontade como na casa antiga, mas aos poucos fui-me ambientando, e eles também, à nova realidade. Comecei a conhecer novos amigos. O Paulo, o Ricardo, irmãos, o outro Paulo, o Miguel, e mais uns tantos, jogamos muitas vezes à bola no meio de uma rua em que quase nunca passavam carros e no largo da Cruz. Por ali andamos também de bicicleta, explorando todas as bouças e naquele tempo ainda eram muitas – onde hoje está o pólo universitário da Asprela, era campo e bouça ali à mão para descobrimos. Por isso os antigos diziam que este lugar era "para anhos" e vinham pastar para aqui o gado.
As sameiras
Brincávamos com as “sameiras” – as tampas da garrafas da cerveja e dos sumos – por vezes, enfeitadas com as tampas de plástico de alguma garrafa de vinho que encaixavam na perfeição e faziam um chapeuzinho, outras vezes enchíamos-las com casca de laranja para as tornar mais pesadas e lá dávamos a volta ao quarteirão pela borda do passeio fazendo corridas com os outros. E se tínhamos “sameiras” raras, fazíamos daquilo objectos de colecção, apesar de eu não ter muito aptidão para o coleccionismo. Eram alvo da nossa atenção especial, as sameiras "espanholas" que ao contrário das nossas tinham um revestimento interior não em cortiça mas num material mais pesado, tornando-as por isso mais apreciadas para o jogo. Quando chovia, refugiávamo-nos em casa de um de nós. Com as peças de lego, construíamos as balizas e com um berlinde e faziamos joguinhos de futebol com as sameiras a fazer de jogadores. O “botão” era outra das nossas brincadeiras. Uma linha no chão junto à parede, jogávamos o botão contra a parede para cair o mais perto possível da linha, mas para cá dela. Quem ganhasse o maior número de vezes ficava com o botão do outro e aí entrava a parte do desespero das mães que não sabiam o que fazíamos aos botões das roupas que trazíamos vestidas!
Comecei a ir sozinho para o colégio e aí também a conhecer novos amigos que além de andarem comigo no colégio eram praticamente meus vizinhos. Já devia estar próximo dos meus treze anos quando tive, e desta vez não por opção, de mudar de escola – o colégio ia fechar e aí quando quase todos os meus amigos vieram para o "Portuense" no Marquês, eu fui para o "Almeida Garrett", no centro do Porto. Que maçada! Arranjar novos amigos.
Publicidade a cigarros.
Ao contrário do "João de Deus", o "Almeida Garrett" era frequentado maioritariamente por filhos de emigrantes, que os punham a estudar cá e filhos de lavradores abastados do interior. A disciplina também, ao contrário do "João de Deus" era baseada no “quero, posso e mando”. Se no "João de Deus" éramos incentivados à vontade própria, aqui somos marionetas. Não se podia fazer isto, nem aquilo, nem falar com aquele, nem...nem...nem. Os conflitos entre alunos, professores, auxiliares eram constantes. As relações de grande amizade e quase maternal que os professores tinham connosco no "João de Deus", aqui não se mantinham – eram frias, impessoais. Nos recreios era permitido fumar. No "João de Deus", até os mais velhos, se nos viam a tentar nos repreendiam logo, acho que foi aqui que comecei.
O uso da pastilha elástica não é recriminado como no "João de Deus" e quase todos as usámos. Alguns professores não nos deixam mascar nas aulas. Nesse tempo pensavam que o mascar fazia perder a concentração devida nas aulas, ao contrário dos dias de hoje em já existem alguns estudos que mostram que o mascar estimula a memória e o raciocínio. No entanto, éramos instruídos para o devido acondicionamento da pastilha mascada e a não deitarmos fora à toa. Actualmente, os passeios das nossas cidades estão pejados de pastilhas usadas, que as pessoas lançam para o chão. Isto junto com os milhares de beatas de cigarros deixam uma poluição não muito agradável de se ver nos passeios das nossas cidades. Reparem que se o papel e o tabaco das pontas que se deitam fora são rapidamente decompostos, o filtro que deixam nas ruas, rios, praias, jardins demora cerca de cinco anos a decompor-se quando não é ingerido por aves, peixes ou mamíferos causando-lhes intoxicação / asfixia e consequente morte.
Por esta altura, o meu avô Joaquim morreu...foi um choque...já estava acamado fazia algum tempo. A bronquite asmática, mal de família, apoquentava-o e o meu pai algumas vezes carregou a botija de oxigénio ladeira acima, para casa dos avós. O meu avô que muitas vezes me acompanhava até as bouças perto de minha casa para eu brincar e andar de bicicleta, o meu primeiro tombo a sério foi com ele perto: – Oh vô, olha...monte abaixo...até a bicicleta andar por cima de mim e eu por cima dela a rebolar por ali abaixo até parar nas moitas. Ele a correr, aflito, ao meu encontro. O meu avô que me ensinou a regar a horta.
Esperávamos nos corredores a chegada dos professores e com eles presentes, começávamos a entrar na sala. Uma das minhas brincadeiras era: na aula anterior quando saíamos deixava o apagador no alto da porta e a porta entreaberta....quando a abrissem... azar meu!...um dia a professora de matemática entrou primeiro. Escusado será dizer que fui parar à direcção do colégio, de onde saí com uma repreensão das antigas.
Um sublinhava tudo o que o livro tinha, deixava uns “e” e os “mas” aqui e ali sem sublinhado... outro em plena aula de matemática, depois de a professora lhe perguntar qualquer coisa, disse: – não estou para ser gozado!!! e saiu porta fora – acho que se tinha apaixonado por ela! Outro rapava o cabelo, outro tinha-o pelas costas abaixo.
Numa manhã, começaram a procurar alguns alunos e a levá-los dali para fora. Um agora, outro mais tarde um pouco, mais outro. Alguma coisa se passava e era grave. Estávamos na aula de história, com um professor, padre, anafado, que chorava ao ler os “Esteiros” (só anos mais tarde percebi o porquê!) e largava perdigotos de toda a maneira e feitio (coitado do Farinhas, levava com a maior parte deles). Achávamos aquilo muito estranho, alguns mais velhos como o José atreviam-se a perguntar o que se passava...mas nada...ninguém falava. Até que o professor nos começou a explicar: Os militares tinham saído para a rua e estavam a tentar derrubar o Governo. – Mas porquê? Perguntávamos nós, inocentes; nunca tínhamos tido até aquele dia percepção da realidade. Alguns talvez. O pai, o irmão, o tio já tinham tido problemas, mas na generalidade ainda éramos muito novos para nos apercebermos da ditadura, que se nesta altura já era um pouco mais liberal, até há poucos anos tinha sido brutal.
Numa clara desobediência à declaração universal dos direitos humanos, era normal as pessoas anti-regime serem presas sem culpa formada, torturadas e nalguns casos deportadas, para prisões e campos de concentração onde a humilhação era tema comum, alguns deles nas colónias, unicamente por se oporem às ideias instaladas. Esta declaração não passava, e ainda hoje não passa, de uma declaração de boas intenções. As pessoas por ela responsáveis também foram responsáveis pela formação do estado de Israel, sem contudo promoverem a fundação de um estado Palestiniano, criando na região um conflito armado que dura desde aí. Afinal o lobby judeu foi muito mais eficaz do que o palestiniano.
Pouco depois, mandaram-nos para casa, não haveria mais aulas nesse dia. Mas o que é uma revolução? E é bom acontecer? perguntava eu ao pai, quando cheguei. Devia ser. Lembro-me da alegria dele (infelizmente, essa alegria, iria durar pouco tempo). Viemos também para a rua festejar. Era o fim do fascismo, o que quer que isso fosse! Nesse tempo o meu pai tinha um Ford Capri, uma máquina e lembro-me de algumas provocações, mas que não saíram muito do decoro...
Uma junta dita de salvação nacional tinha tomado o poder. As instalações da RTP e das principais estações de rádio, foram ocupadas por militares – nesse tempo havia poucas, quase todas controladas pelo Estado e uma, a Rádio Renascença ligada à Igreja. Era importante controlar a rádio e a televisão, já que tinha sido por esse meio que se tinha dado o mote para o início da revolução e era importante prevenir qualquer contra-golpe. Os senhores das fotografias das salas de aula estavam perto do fim como governantes. Afinal, aqueles senhores tinham governado o país nos últimos 48 anos e nem sempre do agrado da maioria. Um deles tinha tomado o poder muitos anos antes, depois da República, surgida com o fim da Monarquia ter sido um autêntico desastre. Aliás, como esta estaria podre quando deu lugar aquela!
Mapa Cor-de-Rosa
Na falta das especiarias da Índia e do ouro do Brasil, outrora grande suporte da nação, com a agricultura pouco produtiva e a indústria pouco desenvolvida a balança comercial é deficitária. Para pagar as obras públicas, o governo contrai cada vez mais dívidas. Taxas de desemprego e inflação elevados, baixos salários e os impostos a aumentarem cada vez mais agravam o descontentamento de um povo, que se sente explorado pelos políticos que o governam (nada mais actual mas no entanto passa-se há 100 anos - será que ninguém aprendeu nada desde aí?). Aliando isto ao Ultimato Inglês de 1890, cria-se o clima favorável para que alguns anti-monárquicos assassinem o rei e o seu príncipe herdeiro. Apesar, da subida ao trono do segundo filho do Rei D. Carlos, D Manuel II, em 1910 dá-se a revolução que leva ao exílio da família real e a instauração da república. Com a instauração da república, adopta-se uma nova bandeira (o verde e o vermelho substituem o azul e branco da bandeira monárquica e a esfera anilar substitui a coroa), uma nova moeda (o escudo substitui o real) e um hino (com o refrão "contra os bretões, marchar..." em alusão ao conflito com Inglaterra). Também se torna obrigatório a educação até aos 10 anos, o dia de descanso, a jornada de 8 horas diárias, seguros de acidentes de trabalho e reforma por velhice ou invalidez. Legaliza-se o direito à greve. Mas nada se fez para tornar o país mais competitivo economicamente.
Tem início a I Guerra Mundial e para garantir os "seus" territórios em África (cobiçados à muito pelas potências europeias) Portugal alia-se à Inglaterra. No final da guerra, Portugal consegue manter os territórios ultramarinos, mas à custa de muitas mortes. A agricultura continua a ser de subsistência e a indústria muito pouco desenvolvida e o mar continua a ser esquecido, como fonte de rendimento substancial. Assim o País não sai da situação de descalabro. Os governos e os golpes de estado, alguns com assassinatos políticos à mistura sucedem-se uns aos outros (alguns governos duram 10 dias!). A taxa de desemprego continua a aumentar, os alimentos escasseiam, a fome generaliza-se e as greves sucedem-se. Começa a sentir-se o sentimento que é preciso por “isto na ordem”. Aliado a este sentimento, o povo, na maioria católico, não está muito de acordo com a influência laica da república, criando todas as condições para o golpe militar, que nos leva à Ditadura e consequentemente ao Estado Novo.
O Estado Novo foi um regime autoritário que governou o país durante 41 anos. Aliando este tempo ao da Ditadura que lhe precede, chegámos aos 48 anos de governação autoritária, a mais longa da Europa Ocidental durante o séc. XX. Também chamada de II república, este termo nunca foi utilizado pelos seus mentores. O seu líder, Salazar (Presidente do Conselho, como nós aprendiamos, hoje, Primeiro-Ministro), então com o apoio do Presidente da República cria um partido, a União Nacional, que tornando-se partido único, dá cobertura numa Assembleia Nacional, à construção de um regime conservador, nacionalista e de conotação fascista. Associa-se à Igreja, concedendo-lhe privilégios, recebe em troca o seu apoio quase incondicional, ainda que com certos atritos com o Cardeal e com muitos Bispos, entre os quais o do Porto, D. António Ferreira Gomes, que numa carta a Salazar, manifestou a sua total não concordância com a situação instalada, carta essa que lhe valeu dez anos de exílio forçado. A Igreja é um bom veículo de propaganda do regime junto da população, principalmente a dos meios rurais, profundamente católica. Apesar de não ser adepto de qualquer deles, aproveita em benefício do Estado o fenómeno "Fátima", a que junta o "fado" e o "futebol", conseguindo desviar as atenções do povo de assuntos fundamentais e ainda acenar com o "papão mau" do comunismo, em plena ascensão na Rússia. Controlando as principais rádios existentes na altura, baseou a sua influência num forte aparelho de propaganda. Censurando toda a imprensa que não lhe fosse favorável, protege a idealogia. Criando a sua própria estrutura de Estado, funda a Legião, a Mocidade e o Movimento Nacional Feminino, organizações baseadas no culto da personalidade do líder. Funda ainda a PIDE/DGS, a polícia politíca do regime, responsável pela repressão que se instalou, que cria uma rede de delatores, “os bufos”, entre a população em geral, de maneira a controlar e a eliminar, logo à nascença, qualquer tipo de oposição. Estes indivíduos, eram pessoas normalíssimas, podiam ser o nosso vizinho, o nosso colega de trabalho, estavam em qualquer lado e infiltravam-se em qualquer movimento de modo a transmitir informações à polícia.
Com as informações recebidas e com total cobertura dos governantes era frequente a utilização de armas, para eliminar os contestatários ao regime. Fosse com o recurso a simples assassinatos políticos, fosse com a utilização de autênticos pelotões de fuzilamento. As armas utilizadas eram das mais modernas na altura, de fabrico alemão e bastante eficazes para o fim pretendido. Também utilizavam as escutas telefónicas, como forma de controlar os movimentos anti-regime e até os que já, integrando a Ala Liberal que entretanto se criou na Assembeia Nacional, lutavam para uma abertura do regime. Sá Carneiro, Marcelo Rebelo de Sousa, Magalhães Mota, eram personalidades já controladas por este método. Mas se até, nos dias de hoje, numa democracia, as escutas são utilizadas para, dizem, segurança de Estado, onde até as mais altas personalidades são "vítimas", num regime ditatorial não será de admirar a prática corrente deste método.
Sendo muito conservador não aposta na modernização do país por temer que esta iria destruir os valores religiosos e culturais da Nação, que possivelmente nos aproximaria dos desejos das democracias ocidentais que nesse tempo prosperavam na Europa. Muito cauteloso nas relações diplomáticas conseguiu que Portugal se mantivesse afastado do conflito armado da II Guerra Mundial, não apoiando abertamente qualquer dos blocos em guerra. Mercê das exportações, nomeadamente de volfrámio, para os países em guerra, quer fossem do Eixo quer fossem dos Aliados, faz com que a economia dispare neste período, não poupando, contudo, de Portugal sofrer um periodo de menos abundância e até de fome. Com o fim da Guerra, permite que o grande capital estrangeiro entre em Portugal, principalmente no sector químico e energético, desenvolvendo muito a nossa economia. Abre-se um pouco ao estrangeiro, integrando a EFTA, uma associação de comércio livre. É, talvez, um dos períodos em que Portugal tem um crescimento económico mais intenso. No entanto, este continua a ser um dos países mais pobres da Europa, com uma mão-de-obra barata e com muita gente a viver da agricultura de subsistência. Começa a haver grandes diferenças entre o modo de viver das grandes cidades do litoral em franco desenvolvimento e o interior, onde, em muitos casos, nem a energia eléctrica chega. O atraso que se vive nos campos, provoca um êxodo das populações para o litoral e em muitos casos para o estrangeiro, iniciando-se aqui o grande período de emigração dos portugueses. O início da Guerra Colonial, além de abrandar o crescimento económico, aumenta a emigração, sobretudo de jovens.
Comício do General na cidade do Porto
O então Presidente Carmona, entrando em conflito com Salazar, não procura a reeleição para o cargo. O candidato do regime é, então, o Almirante Américo Tomás, que apoiado pela União Nacional concorre contra um candidato independente, Humberto Delgado. São célebres os grandes comícios promovidos pelo General Delgado. Apesar do grande apoio popular, perde as eleições para o candidato do regime mas suspeitando de fraude, os resultados são contestados pelo General e seus apoiantes, no entanto sem resultado prático. O regime nunca reconheceu a fraude montada e determina que as eleições para a Presidência da República deixem de ser directas e passem a ser da responsabilidade da Assembleia Nacional. Por este método, o Presidente Tomás é reeleito sucessivamente até ser deposto e exilado pela Revolução. Quanto ao General Delgado, vítima de ameaças e represálias do regime e da sua polícia, exila-se no Brasil e após ser mentor de várias intentonas armadas, é atraído a uma emboscada e assassinado a tiros de uma pistola, por agentes da PIDE, em 1965.
Os tipógrafos, como sempre, na linha da frente
Estávamos a 25 de Abril de 1974. Poucos dias depois, o 1.º de Maio foi uma autêntica festa, era o primeiro festejado em liberdade. Para mim, ser feriado não era novidade. Durante muitos anos. o meu pai não trabalhava nesse dia por ser feriado inerente à profissão. Os tipógrafos e os metalúrgicos já festejavam este dia com feriado. Na linha dos tipógrafos espalhados pelo mundo (em 1962 os tipógrafos dos EUA organizaram uma greve recorde mundial de 114 dias), os portugueses eram pioneiros na luta por melhores condições de trabalho.
Os líderes de partidos outrora na clandestinidade começam a voltar a Portugal, sendo recebidos por enormes multidões. Aparecem partidos novos, de inspiração comunista, trotskista, maoista, leninista, partidos de inspiração cristã, sociais-democratas e de todas as tendências quase diariamente. Os movimentos de esquerda, aliando-se aos militares afectos às “democracias” do leste europeu, controlavam o país e as forças armadas e os governos "provisórios" sucedem-se uns aos outros. Spínola, o primeiro presidente após revolução, é substituído depois dos movimentos conservadores de 28 de Setembro (a "maioria silenciosa" para uns, a "minoria tenebrosa" para outros) que o apoiavam e que, tal como ele, não concordavam com o rumo dos acontecimentos, nomeadamente a viragem à esquerda da política do país e a total independência para as colónias. Estes movimentos são controlados e proibidos pelos sectores revolucionários, barricadas civis são montadas em vários pontos do país, vários activistas e outras personalidades ainda afectas ao regime fascista são presos. São afastados da Junta de Salvação, os militares mais conservadores. É o primeiro passo para o PREC (processo de revolução em curso), com a nomeação do General Costa Gomes para Presidente e a nomeação de Vasco Gonçalves para 1.º ministro. Em 11 de Março de 1975, a facção afecta a Spínola, na sequência de boatos que referem a eliminação de todos os militares afectos à reacção, tentam um novo golpe militar, imediatamente sanado pelos militares revolucionários e pelo "COPCON", (força militar criada após revolução com o intuito de a proteger) que ainda controlam o país. Estava instalado em definitivo o PREC, que viria a causar ao país graves problemas, sociais, económicos e financeiros. As confrontações, entre militantes dos partidos de esquerda e dos partidos mais moderados sucedem-se e algumas sedes são destruídas. De norte a sul, terras e fábricas são alvo de ocupações pelos operários, agora chamados de trabalhadores, afastando os legítimos proprietários, até com recurso à violência, tendo alguns deles de fugir para o estrangeiro, para não serem presos pelo COPCON que entretanto se tornara numa polícia política. Nalguns casos as propriedades são alvos de saques. Algumas das grandes empresas consideradas de interesse público são nacionalizadas. O mesmo se passa com bancos e seguradoras de referência. Os "saneamentos" políticos e militares são prática corrente. Nos meses seguinte, as situações extremam-se e a esquerda radical tenta instaurar o poder popular no sentido da construção de uma "sociedade sem classes". Perante este cenário, os EUA que não pretendem que, devido à sua posição geo-estratégica, Portugal se torne uma república popular e socialista, fundeiam um porta-aviões no Tejo. Nas forças militares formam-se 3 grupos distintos, um apoiante do 1.º ministro da altura, Vasco Gonçalves, outro apoiando Otelo, o chefe do COPCON, também apoiado pelo sector mais radical da sociedade, e ainda um outro, apoiando a maioria dos responsáveis pela revolução de 25 de Abril, o Grupo dos Nove, cuja cara mais visível seria Melo Antunes. Portugal, está como nunca esteve, à beira da guerra civil.
"Os Retornados"
Foi durante este período que a minha família também sofreu a desaventura de ver as instalações da pequena oficina de tipografia ocupada pelos operários. No período do PREC, num saneamento selvagem, pura e simplesmente, comunicaram aos meus pais que já não podiam entrar no que era deles (?!).
Com a revolução, algumas das “nossas” províncias ultramarinas são entregues aos movimentos locais que lutavam pela independência já há muitos anos. Outras foram simplesmente deixadas à mercê da invasão de outras potências colonialistas, como no caso de Timor. Devido à situação política portuguesa e com a justificação de proteger a região do comunismo, a Indonésia, com o apoio velado dos EUA e da Austrália invade o território e anexa-o como sua província. Com uma política de limpeza étnica, de tortura, chacina e esterilização da população, tenta durante anos a absorsão completa. Os timorenses, sentindo-se portugueses, clamam por ajuda aos sucessivos governos de Portugal, que nada faz para travar o genocídio. Aos olhos do mundo, até agora cego, o massacre de Santa Cruz, iniciou o processo da independência total de Timor-Leste, reconhecida pela comunidade internacional em 2002.
Com a invasão dos Estados Portugueses da Índia, pela União Indiana, que em 1961, numa acção armada, anexa os enclaves, forçando a guarnição militar portuguesa, mal apoiada, à rendição, contrariando as indicações de Salazar de lutarem até à morte, depois da descolonização africana e da entrega da soberania de Macau à China, este acto acaba com o império colonial português, iniciado à mais de 500 anos, com a conquista da praça de Ceuta. Esta presença deixou marcas indeléveis e um legado cultural, gastronómico e humano pelos cinco continentes.
Desde 1961, após a eleição de J. F. Kennedy, um anti-colonialista, para a Presidência, que a administração dos EUA apoiam idealógica e materialmente os movimentos de libertação das várias colónias de potências europeias. No contexto da Guerra Fria, contrapondo-se à União Soviética que já apoiava certos movimentos, procura não perder influência nesta parte do Globo. Estes movimentos pró-independência iniciam uma luta armada contra as potências colonialistas. França, Bélgica, Inglaterra, Portugal vêem-se envolvidos nestes conflitos. Após um ataque de alguns locais a fazendeiros brancos, Portugal envia forças militares para Angola e inicia-se um conflito de guerrilha. Em Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe também se formam movimentos que lutam pela independência. Estes movimentos cada vez se tornam mais fortes, mercê dos apoios que recebem e cada ano que passa, Portugal envia mais militares para as colónias.
O descontentamento dos oficiais superiores das Forças Armadas, na forma como a Guerra Colonial estava a ser conduzida, deve ter sido o principal motivo para a queda do regime e para a revolução que agora se inicia. Não é por acaso que os Governadores militares das ex-colónias são os primeiros presidentes da República após revolução, nomeados pela Junta de Salvação Nacional e consequente Conselho de Revolução.
Nos acordos de descolonização com os movimentos de libertação, os nossos representantes nunca acautelaram os interesses dos portugueses continentais que lá viviam e aliado aos problemas surgidos com a governação interna desses novos países, provocaram um enorme êxodo de portugueses a regressar à Metrópole (assim chamávamos a Portugal, naquela altura).
Os governantes portugueses pareciam ter pressa de entregar as províncias aos movimentos de libertação. No caso de Angola, esta pressa traduziu-se no início de uma Guerra Civil de quase 30 anos, entre os três movimentos de libertação representados no Acordo do Alvor, que estabelecia a partilha e rotatividades do poder, entre eles, nesta ex-colónia portuguesas. Os nossos representantes sabiam, desde o início, que "aquilo não resultaria", devido ao interesse das grandes potências mundiais no território, rico em petróleo e diamantes e que apoiavam, cada uma, o "seu" movimento. Mas, no entender dos nossos representantes, "Portugal fazia o que tinha de fazer, o resto é com eles, eles que se entendam".
O processo de descolonização das outras potências europeias, tinha iniciado vinte anos antes. O Estado Novo não admitia, sequer, conversações com os movimentos de libertação, e agora, após revolução, Portugal procurava urgentemente uma solução para o problema da Guerra Colonial, cansada e sem rumo. Devido ao 25 de Abril, já não se compreendia o manter deste conflito e as tropas portuguesas estavam à beira de uma derrota também em Moçambique e na Guiné. Além disto o clima de indisciplina, de falta de respeito e de ordem que se instalou entre populares, estendia-se agora, às forças armadas, onde já ninguém mandava em ninguém. Mas a descolonização devia ter sido feita gradualmente porque ninguém estava preparado para este processo. Nem os portugueses nem os naturais das ex-colónias.
Estima-se em 500.000 a 750.000 o número de “retornados”, como vieram a ficar conhecidos. Desalojados de tudo. Gente traumatizada. Entre eles, muitos da minha família. Tios, primos, segundos primos, família que eu nem sabia que tinha, voltavam. Apesar da tristeza pelo motivo que os trouxe, também havia a alegria do reencontro de gente que não se via há muitos anos. Na aflição da fuga da terra que os tinha acolhido nos últimos anos, muitos traziam consigo pouco mais do que a roupa que tinham no corpo e contavam histórias, algumas não muito agradáveis. O branco tinha subjugado o preto durante muitos anos e estes, agora, na hora da libertação, vingavam-se de humilhações sofridas.
Nós, pouco tínhamos também para ajudar. Esta gente que agora chegava traziam também novos costumes, ideias mais arejadas, porque apesar de tudo lá fora a mentalidade era outra. Começa-se a ouvir as palavras haxixe e marijuana, a coca-cola, outrora bebida proibida na Metrópole mas tolerada nas províncias ultramarinas, começa a aparecer nos cafés. Trazem consigo também receitas culinárias típicas de África e moldam ainda mais a nossa cozinha tradicional. Até no relacionamento com os outros são mais abertos. Eu tenho 15 anos na altura e começo a desenvolver uma paixoneta com uma segunda prima que também chegara. Nesta altura, o meu pai mais alguns destes familiares retalia da ocupação sofrida poucos meses antes e tomam pela força a fábrica, de nada servindo porque, logo após, as forças militares voltam a por tudo com estava.
Emigrante
Se até agora Portugal é um país de emigração, passa a ser também de imigração, já que com os portugueses que voltam, muitos naturais das ex-colónias, optam pela nacionalidade portuguesa e beneficiam deste estatuto para entrar no nosso país. Enquanto os "retornados" se instalam maioritariamente nas suas terras de referência, por nascimento ou por casamento, os imigrantes africanos instalam-se nas periferias das grandes cidades, como Porto ou Lisboa, criando nalguns casos autênticos "guetos". Trabalham, na sua maioria, na construção civil e alguns empresários menos escrupulosos, aproveitando a situação destas pessoas, muitas em situação ilegal, para além de pagarem menos do que pagariam a trabalhadores nacionais e legais, não respeitam a lei e não os inscrevem como trabalhadores, por isso eles não têm direito nem a segurança social nem a seguro de acidentes de trabalho, criando um mercado paralelo de trabalho, mais barato. Isto causa discriminação entre empresas, já que têm menos custos com a mão-de-obra. Esta situação também origina desigualdades no acesso ao mercado de trabalho pelos cidadãos nacionais e estes culpam os imigrantes.
Se no caso dos retornados e dos imigrantes das ex-colónias a barreira linguística não se põe, é nos imigrantes de outras paragens, tais como asiáticos e outros africanos que a língua se torna uma barreira à integração total destas pessoas na nossa sociedade. Estes, sentindo-a e por também serem pessoas de condição humilde e parcos recursos económicos, não procuram a integração, refugiando-se em grupos já de si marginalizados. Portugal, ao contrário de épocas anteriores, em que se recebiam os imigrantes até de um modo bem agradável, mercê de também ser um povo emigratório, agora, como os interesses dos imigrantes coincidem com os interesses dos habitantes locais, aqueles já não recebidos da mesma maneira cordata, mas com alguma reserva e até desconfiança.
Cria-se um mal-estar, que origina racismo e xenofobia, até agora não muito normal no nosso país.
O migrante tem de se integrar num modo de vida diferente, de se voltar a socializar. No entanto a realidade mostra situações de indefesa, marginalidade e discriminação. As migrações também têm consequência para a economia tanto do país emissor como do país receptor da migração. Para um, a redução da pobreza mediante as remessas de divisas que os migrantes enviam às suas famílias e a potência inovadora que se manifesta aquando do regresso, no país receptor, o aumento da mão-de-obra, enquanto esta não interfere com os trabalhadores locais e a contribuição de impostos pagos, enquanto durar o período migratório. Também culturalmente beneficia os dois povos, sendo a aceitação do migrante pelos povos receptores um passo importante para a tolerância racista e xenofoba, pelo menos enquanto esta não chocar com os motivos económicos.
Quatro da manhã de um dia como qualquer outro, uns quantos carros militares param à porta do prédio em que habitávamos em alto alvoroço, tocando na campaínha do prédio insistentemente. Aberta a porta do prédio subiram as escadas apressados e quando chegam ao apartamento já o meu pai lá estava à porta a ver que pretendiam. Provocaram sensação de medo em todos nós. Sabia-se que os militares do COPCON, sem legitimidade para tal, tinham em sua posse mandados de captura em branco, podendo-os aplicar em qualquer pessoa, a qualquer altura. Após breve mas intenso diálogo com o meu pai, retiram... – É para me apresentar amanhã de manhã no quartel-general. No dia seguinte foi e após umas horas lá voltou a casa. Era só para explicar porque e como tinha comprado uma aparelhagem de música! Ridículo! Foram pessoas chamadas lá só porque tinham comprado pescada no mercado! Era a revolução no seu melhor!
Para conseguir manter a família, já que a tipografia tinha-se tornado em cooperativa operária, com o consentimento dos governantes de conotação marxista, no poder, o meu pai começou, além de trabalhar à comissão para outras casas do ramo, a fazer bóias de pesca. Com um pequeno torno que construiu com base num berbequim, molda-as a partir de madeira de balsa, cola uma pequena haste plástica no topo, um pequeno arame na base e enverniza, pinta e volta a envernizar esses pequenos objectos que depois vende às casas de especialidade ou aos colegas de pesca. A mãe que desde que casara, além das tarefas domésticas e da minha educação não tinha voltado a trabalhar, começa a colar bolsas de cartolina para uma tipografia, que pagava esses trabalhos a quem os quisesse fazer em casa.
Revista cor-de-rosa da época
Com o fim da censura prévia, começam a surgir os primeiros filmes pornográficos. Salas de cinema e teatro tradicionais da cidade, como o Sá da Bandeira ou o Júlio Deniz fazem sessões ininterruptas com lotações esgotadas. Garganta Funda (não, não é o do Watergate), o Diabo em Miss Jones e o Garranhão Italiano este com o Silvester Stallone em início de carreia são títulos que ficam para a história. Aparecem revistas e bandas desenhadas com o mesmo tema. As revistas cor-de-rosa, como a Flama e o Século Ilustrado, por mostrarem uma sociedade agora caída em desagrado, deixam de ser publicadas. Depois, aparecerão novos títulos como a Gente, a Maria e Ana. Jornais como o Avante começam a circular livremente. Em breve, jornais de conotação fascista também aparecerão.
Aparece o “cubo mágico”. Nunca resolvi o puzzle sem ajuda de cábulas. Foi, talvez o brinquedo mais vendido em todo o Mundo e faziam-se concursos em todo mundo para ver quem o resolvia mais depressa.
O Cubo de Rubik
Eu, entretanto, tinha deixado o "Almeida Garrett" com um chumbo no 5.º ano do liceu. Se no ano anterior, após a revolução tudo passou por decreto, naquele ano não. Os estudantes organizaram manifestações, concentrações e mais algumas coisas mas tivemos que repetir o ano. Passei para o Colégio Portuense, no Marquês, onde fui encontrar muitos amigos que comigo tinham estado no "João de Deus". O Carlos, o Silveira e mais uns quantos voltávamos a nos encontrar. Aqui passei bons tempos com professores magníficos. O de matemática era talvez o melhor de todos. Por vezes dava a aula no recreio sentado no beiral de uma janela enquanto nós, em redor dele, fazíamos os exercícios que ele ditava. No exame final tive a melhor nota de toda a minha vida de estudante.
Aqui tive dois episódios muito marcantes. O professor de Português e de História, perguntava frequentemente aos alunos a matéria anterior e numa das aulas, eu por ter já respondido por duas ou três vezes, mandou-me calar para dar a vez a outros...não me calei... – "Lima, rua!" Disse ele. – "É uma injustiça". Mas ele não quis saber e tive mesmo de sair. Como era norma estabelecida que quem não tivesse o livro não podia assistir à aula, eu, ainda revoltado, na aula seguinte não o levei. Quando lhe comuniquei o facto. – "Eu fui injusto contigo na última aula, podes assistir a esta e aceita as minhas desculpas!" Outro episódio, foi passado com o professor de Francês e director do Colégio, o Sr. Padre Barros. Com o número 5, eu ocupava a ultima cadeira da primeira fila, ficando por isso, no canto da sala, à beira de uma janela (era alta, eu não via nada cá para fora, por isso não me distraía). Era altura do Carnaval e um dos colegas largou uma bombinha de mau cheiro na sala. O professor veio pelo meio das duas filas, perguntando a cada um se tinha sido ele!.. um a um responderam que não! Os meus colegas até já se tinham levantado e diziam: – "Foge, Lima". Mas fugir para quê? Não tinha sido eu. Chegou até mim. – "Então, foste tu." – "Não, eu não Sr. Padre." – "Foste, os teus colegas não mentem!" Continuou o diálogo, foste, não fui, foste... até que ele deitou a mão a um pedaço de madeira que estava no beiral da janela e aí sim fugi dali, por cima da carteira de um colega, mas sempre afirmando que não tinha sido eu. Ainda hoje não sei se ele estava mesmo com a ideia de me dar com ela!
O colégio que já não era de construção recente, tinha algumas partes em mau estado. A parede que dava para um pequeno quintal vizinho era uma delas. Neste quintal, havia dois cães de porte grande e por vezes nós pendurados no muro, resolviamos assorrear um pouco. Numa das vezes, éramos aí uns cinco pendurados a ulular com os cães. Pois tanto estávamos nós em cima do muro como o muro em cima de nós e nós no chão, atrapalhados, já a imaginar os dentes dos cães ferrados à nossa perna...afinal os cães tinham apanhado um susto maior do que o nosso e fugido em direcção contrária, mais depressa do que nós nos pusemos a pé.
Começo a frequentar cafés, tanto perto de minha casa, como perto do colégio. De casa, o Cubango do Faria, um personagem, perto do Colégio, o Pax e o Pereira, além do Café dos “Índios”, são postos de paragem no início, intervalos e fim das aulas. As mesas de bilhar são uma atracção e passamos horas a jogar. Por vezes, o Sr. Padre Barros aparecia no Pax e corria connosco à frente dele até ao Colégio. É o tempo do Cinema do Terço, ali no Marquês, ainda com o chão em areia e cadeiras de esplanada, que repetia os filmes que tinham estreado noutras salas meses antes e todos os dias filmes diferentes. Assim, víamos o mesmo filme 5 ou 6 vezes.Não havia mais nada para fazer? Cinema! Aqui acabo o 5.º ano do liceu com umas notas razoáveis.
Cartão de Estudante
O Colégio Portuense vai fechar. Por isso tenho, mais uma vez de mudar de escola. A continuação em ensino particular está fora de causa, a situação financeira da família não é a mais recomendada. Ao trabalharmos à tarefa, quando não há trabalho não há dinheiro. Por vezes ajudo a minha mãe a colar caixas e os dois conseguimos colar uns milhares ao trabalharmos 10 horas, pena é que não haja trabalho para todos os dias. O pai continua com as bóias, que ainda não saiem perfeitas. O pouco conhecimento de vernizes e tintas não dá qualidade ao produto. A avó, que depois da morte do meu avô, praticamente mora cá em casa, ajuda-nos com a pequena reforma que recebe mensalmente. Por estes e outros motivos, vou estudar para o Liceu António Nobre. Português, psicologia, introdução à política são disciplinas obrigatórias, matemática, fisíca-química e desenho são as opcionais, temos ainda educação física. Pela primeira vez estou numa turma mista, se se pode chamar isso a 25 rapazes para 5 raparigas. É ainda o tempo de confrontação política dentro das escolas, com os simpatizantes de esquerda a reunir-se num dos lados do polivalente, os de direita no lado oposto e os neutros, como eu, a ficar numa das alas.
Edição do Diário de Notícias
Na política, em 25 de Novembro, um levantamento do corpo de Comandos inícia o fim do PREC. O Grupo dos Nove instala-se e comandados por militares moderados, estabelece um pouco de ordem no país. O Copcon, polícia militar do PREC é extinto e o seu mentor afastado. Surge no poder uma esquerda moderada tanto militar como politicamente. Um militar (Eanes, que tinha liderado o plano de resposta do Grupo dos Nove) é eleito Presidente da República, numa eleição livre, coisa que não acontece em Portugal há muitos anos. Soares, líder do PS, que até à pouco tinha colaborado com o PCP e a extrema-esquerda, despe o casaco marxista, mete o socialismo e a sociedade sem classes na gaveta e é nomeado primeiro-ministro. É o fim do PREC. Parece que o país caminha para a normalidade. Puro engano. A entrega dos campos, fábricas aos seus legítimos proprietários ainda ia levar uns bons anos a concretizar-se. A via-sacra de pessoas que, como o meu pai, lutavam para a restituição do que era deles passavam por constantes apelos a quem de direito, quando elas visitavam o Porto e a deslocações constantes a Lisboa, sem contudo resolução. O triângulo formado por Eanes-Melo Antunes-Soares tinha preparado a perpetuação no poder de um regime de esquerda, sustentado por um Presidente, uma Assembleia e um Governo da mesma área política. Só mais tarde, com a aproximação de Portugal à CEE e a vontade expressa de a integrarmos, começariam a ser resolvidos, alguns por via judicial, outros por vontade política.
Apesar de atingido por este regime como nunca tinha sido atingido pela “ditadura”, não consigo simpatizar com qualquer dos blocos. Afinal, nos últimos anos, com o afastamente e consequente morte de Salazar, o seu sucessor, Marcelo Caetano, em certos temas sendo mais liberal, até visto como um democrata, promete uma ligeira abertura do regime. Um pequeno grupo de deputados que se auto-denomina Ala Liberal, produz várias acções para acelerar a renovação, mas Caetano, a conselho da ala conservadora, não prossegue com as intenções iniciais e a Ala Liberal abandona a Assembleia. Também os braços armados de algumas forças políticas começam a fazer estragos e a classe média e operária alinham-se na contestação. As bases de apoio começam a faltar. É de pensar que, sem revolução, a continuar assim, o regime cairia por ele mesmo e a transição para o regime democrático seria mais suave e por assim mais firme. No entanto a crise petrolífera de 1973, com a subida generalizada dos preços e a continuação da guerra colonial, que não agrada aos militares, faz cair a "evolução na continuidade" e apressa a revolução. Alguns políticos atravessam os dois regimes, saindo daquela Ala Liberal para líderes de partidos, agora, também e ainda na oposição livre ao regime instalado.
Portugal perde a sua oportunidade de mudança radical. Sem um líder, caminha à deriva. Um povo habituado à presença constante de uma pessoa de referência, agora, não tem objectivo. D. Afonso Henriques, D. Dinis, D. João I, Marquês de Pombal e porque não dizê-lo, Salazar, foram lideres desta nação quase milenar que agora não tem referências. Na actual III república temos já 4 presidentes eleitos e quando nos começamos a identificar com a pessoa, lá vem uma nova para mais uma temporada de cinco anos ou no melhor dos casos 10 anos, nunca conseguindo ser uma voz a ser ouvida, devido à pouca identificação que temos com eles. Todos eles são, sem dúvida, pessoas de grande valor mas que procuram no seu primeiro mandato, a reeleição para um segundo, condicionando as suas considerações à não hostilização do partido no poder nem ao principal partido na oposição. Afinal, e apesar, de se auto-proclamarem acima de qualquer partidarização, todos eles, com excepção do primeiro, foram figuras de relevo nos seus partidos e necessitaram do apoio destes para serem eleitos presidentes.
Depois do fim dos governos corporativistas à imagem da antiga União Soviética e com o desmoronar das democracias constitucionais, sobraria a presença constante de um Rei, suporte fundamental a um povo que parece esperar, ainda, uma certa manhã de nevoeiro (que esperemos nunca chegue. Pelo menos com as ideias do desejado, esse menino mimado, no entanto arrojado e guerreiro, que só soube gastar dinheiro e ouro em expedições tontas e sem sentido, levando o reino à miséria e à perda da independência entre 1580-1640). No contexto actual (Dezembro 2010) e aproximando-se a data de uma nova eleição para a presidência nota-se que a cúpula do partido no poder parece agradar-se mais com a reeleição do actual presidente de que com a eleição do candidato apoiado pela suas bases. Também a Justiça subordinada a um ministro que se subordina a um primeiro-ministro, chegado aqui pela indicação de um partido que é financiado por grandes empresas, não abona muito em favor da independência requerida a este e a outros poderes. Certamente que subordinada a um Rei, com poder executivo, seria mais independente e isenta. Não vejo na actual classe política portuguesa alguém mais credível e isento do que o Senhor D. Duarte e a sua postura, esta sim, acima de qualquer intriga política, seria uma forma agregadora da sociedade portuguesa, tão necessário nos tempos que correm. E que dizer da campanha eleitoral, para um segundo mandato de um Presidente? As célebres distinções entre Presidente e candidato? É claro que as duas figuras são indissociáveis, apesar de afirmarem o contrário. E as promessas que fazem, sabendo de antemão que as não vão concretizar? Se não o fizeram no primeiro mandato, querem-nos fazer acreditar que o vão fazer no segundo? Rídiculo!
«Qual o Presidente da República que não é actor? Todos os políticos têm de representar.» São palavras de uma antiga primeira-dama a um jornal de referência, pouco antes de uma eleição presidencial! Mais palavras para quê?... E não é mal-dizer de moda snobe, como diz outro antigo Presidente, comparando-nos aos Vencidos da Vida do séc.XIX...também ele cerceou muito das aspirações juvenis de muitos portugueses. Por estes e outros motivos, o único voto útil nas eleições para a Presidência é o voto nulo... como só será eleito o candidato com a maioria absoluta dos votos sufragados, não se considerando para isso os votos em branco (art.º 126 da Constituição Portuguesa)...seria uma maneira de os cidadãos expressarem a sua não concordância com qualquer dos candidatos a sufrágio...adiando indefinidamente a eleição.
Pelo Liceu António Nobre, passei dois anos até reprovar em 4 das 6 disciplinas do 7.º ano (actual 11.º) e por aqui fiquei nos estudos escolares.
Estamos em Junho de 1977, tempo de santos populares e de bailinhos organizados principalmente nos bairros camarários de cidade. Com o 25 de Abril, apareceram Comissões de moradores em todos eles e em algumas ruas também. Estas comissões, serviam para os cidadãos em conjunto obterem mais depressa aquilo que pretendiam, fosse umas obras na rua, fosse a instalação de luz eléctrica num local de passagem, água ou saneamento que, nesse tempo, ainda não era um bem adquirido por toda a cidade. Estas comissões normalmente organizavam também estes bailaricos. Foi num destes que conheci a minha primeira namorada, Margarida.
Começo a ajudar os meus pais em permanência. Quer o meu pai com as bóias quer a minha mãe com a colagem de caixas. As bóias já saíam com mais perfeição e vendiam-se bem, começando nós a melhorar financeiramente. Mas aí começam os conflitos com o pai. As saídas à noite, o chegar tarde, o levantar tarde (espero que os meus filhos não cheguem a ler isto) agudizam as relações entre nós. Assim proponho ao meu pai iniciar um trabalho fora de casa, que aceita e até me ajuda com os seus conhecimentos. Vendas porta a porta, enciclopédias, quadros, decorações mas é a vender cursos por correspondência fora do grande Porto, que me mantenho mais tempo e que me dá um prazer enorme. O contacto com uma realidade diferente da citadina, as pessoas, os seus costumes, a sinceridade natural dos rurais é uma realidade nova para mim. Gente que ao nos ver calcorrear os caminhos, nos dizia que não comprariam nada, mas para entrarmos em suas casas e nos sentássemos à mesa com eles. Pouco tempo depois, vou trabalhar para um estabelecimento comercial na rua de Sá da Bandeira, nosso cliente das bóias, para o sector que me considerava mais à vontade - pesca desportiva.
O Tróleicarro
Apanhei o trólei na paragem em frente a casa, em direcção ao Bolhão e desci aquele bocado de Sá da Bandeira, para entrar onde iria ser o local de trabalho por uns meses. O fato comprado para ocasião, aliado à gravata não foi uma indumentária bem escolhida para o que me reservaram. Andavam em obras para abrir uma secção de campismo e era preciso arrumar centenas de artigos numa espécie de águas-furtadas. Suava por todos os lados, mas aguentei firme até me mandarem levar uma tenda familiar lá para cima: - "Quem? Eu? Sozinho?" - "Sim! Porque não?" Perguntou o encarregado. - "Porque eu não levo isso" – respondi. Foi o meu primeiro conflito laboral e o início de uma relação complicada com um superior. Nessa secção trabalhavam também um dos sócios, Carlos e além do encarregado, Barroso, o Garcia e o Delfim. Por vezes, na altura de mais clientes, outros nos vinham ajudar. A minha relação com o patrão Carlos sempre foi amistosa, afinal por um primo dele, que também trabalhava nessa casa, mas noutro sector, é que eu fui para lá, e com o Delfim, por termos berços parecidos. Com o chefe, iniciámos mal e assim continuamos e com o Garcia as distâncias culturais eram tão grandes que nem procurei amizade e da parte dele o sentimento era o mesmo. A idade é um posto e por ser o mais novo, certas tarefas estavam para mim, tais como abrir e fechar as grades das montras, abrir e recolher os toldos. Num balcão com uns quantos metros, vendíamos mais de 5000 referências de artigos e para um recém-chegado saber a colocação de toda um parafernália de objectos (anzóis de muitos tamanhos, feitios e cores, bóias também de todos os tamanhos, linhas de pesca, canas, carretos, peças para 50 ou 60 modelos de carretos) não era uma tarefa difícil, mas saber o local onde se guardavam era complicado. Então: - "Oh Garcia! Onde estão os anzóis 12, cobre, redondos?" - "Aí, nessa caixa, não mais à direita, em cima, “puxa!” ainda ontem perguntaste mesma coisa!" Ridicularizando o novato em frente do cliente que estava a atender e ainda dos outros que estavam à espera e eram muitos, em altura de começar a época, a casa estava cheia. Felizmente, como eu era pescador desportivo, muitos já me conheciam e apesar de demorar um pouco a encontrar as coisas, eles sabiam que eram bem atendidos. Por vezes ia até outras secções, como o campismo e aí, como o Senhor Barroso não marcava os preços em nada, eu tinha de andar sempre atrás dele a perguntar o preço disto e daquilo. Com muita insistência minha, lá começaram a marcar os preços em todos os artigos (aliás prática normal e obrigatória nos dias de hoje), contribuindo para que cada um de nós desempenhasse o seu papel mais satisfatoriamente. Também foi a altura de começar a fazer embrulhos do que vendia...e os primeiros que fiz não duraram até a cliente sair para a rua! Que vergonha! Mas “pratica e serás mestre”. Foi o que fiz.
Até que...uns meses mais tarde, com o Barroso mais interessado na parte do campismo e o Garcia doente em casa, eu mudei a localização de todos os artigos na minha secção....os da direita para a esquerda, os de cima para baixo e assim sucessivamente. O Delfim à distância, ele estava mais na parte de caça, sorria como quem estava já a ver o que se iria passar. Quando voltaram à secção, passaram uns bons dias até acertar com o sítio das coisas.
A minha participação no bem desenrolar desta secção começa a ser fundamental. Chegou o meu período de férias (conforme o art.º 211.º do código do trabalho). Contudo, soube que durante este período o Garcia adoeceu, ficando a secção entregue unicamente ao Barroso e a um elemento do armazém a que se socorreram para manter esta parte em funcionamento. Telefonei e perguntei se estariam a precisar que eu interrompesse as férias, para ir trabalhar, pelo menos enquanto o Garcia não regressasse. Anuiram, pedindo no entanto que dispensasse o restante das minhas férias, sendo compensado em dinheiro. Concordei e no dia seguinte lá fui trabalhar, tendo no fim do mês a compensação monetária correspondente a estes dias de trabalho.
- Seu vigarista, seu incompetente, seu...ainda descia os três degraus da escada e dirigia-se a mim nestes termos. Uns dias antes tinha estado lá a comprar uma bobine nova para um carreto. O fabricante de carretos tinha decidido refazer as referências das peças e tinha-se criado uma pequena confusão. O cliente tinha comprado uma bobine para um modelo e queixava-se que eu o tinha enganado, vendendo uma que não servia: - "Desculpe, tem alguma reclamação a fazer?" Perguntei eu. - "Se tem o patrão é aquele senhor ali ao fundo". Dirigiu-se para o patrão Carlos barafustando e passados uns segundos chamaram-me: "Sr. Lima, que se passa afinal?" Os carretos compreendem três blocos, a máquina em si, a embraiagem e a bobine onde enrola o fio. Ora o cliente tirava a bobine e queria lá enfiar outra bobine mas acoplada a uma embraiagem, enquanto a antiga ainda lá estava....É claro que nunca conseguíria. - "Oh Sr. Carlos é assim." Disse eu aos dois, exemplificando, tirei a embraiagem antiga e coloquei a nova com a bobine de fio. Não sei quem ficou mais espantado, sei é que o patrão Carlos deu uma descompostura ao cliente, tendo eu naquela ocasião, amenizado as coisas entre eles.
Outras situações se seguiram, umas mais hilariantes do que outras, como aquela em que duas meninas entraram e perguntaram a alguém se tinha guizos...debandada geral, todos a rirem-se. O perguntado de tanto se rir, também, desapareceu atrás do balcão, agachou-se atrás dele. Ou daquela em que alguém se lembrou de estender o isco da pesca no balcão e uma senhora caiu redonda... o isco rabiava por todo lado...ou o colega, que numa das ante-vésperas de Natal, quando uma senhora lhe solicitou embrulho separado para mais de trinta “bibelots”. Desapareceu e nunca mais voltou nessa noite, deixando a senhora especada à espera.
À mãe foi diagnostícado cancro no útero. Foram meses de tratamento e hospitalizações constantes. Lembro-me de uma das vezes, quando chegada a casa manifestou a felicidade dela. Os médicos tinham-na dado como curada…Mas pouco tempo depois, a doença regrediu, atacando agora nos intestinos...mais uns meses de tratamentos cada um mais agressivo do que o anterior... Até que numa manhã fui acordado pelo meu pai logo às primeiras horas. A mãe morrera. Nestes últimos dias, semanas, a angústia tinha sido enorme, vendo-a acabar aos poucos, não reconhecendo sequer marido ou filho, apelando constantemente à presença da mãe, minha avó. Que senti nessa hora? Dor certamente, mas, se calhar também, não um conforto, mas um alívio por sentir que o sofrimento de alguém que amo, acabou.
Uns meses antes, através de sucessivos processos judiciais, os meus pais recuperaram a oficina que por direito lhes pertencia. Tinham passado 6 anos e meio, a indústria gráfica tinha nesse período avançado muito a nível tecnológico e era preciso recuperar o tempo perdido. No entanto, além de ter sido entregue, na condição de manter os postos de trabalho, foi entregue sem matérias-primas, sem encomendas em carteira, sem fundo de maneio, tornando por tudo isso a recuperação muito difícil. A agravar as coisas estávamos no meio de uma crise económica geral muito grave. O país caminha a passos largos para o abismo, com a inflação na ordem dos 30%, o escudo a desvalorizar dia-a-dia, provoca um desemprego até agora nunca visto, os salários em atraso começam a manifestar-se e vai provocar uma intervenção do FMI em Portugal (estamos em fins de 1982, não em 2010!).
Eu tinha deixado o emprego e estava a apoiar o meu pai na reconstrução da tipografia. O pai, depois de recuperar a oficina e após a morte da mãe começa a pensar em voltar a fazer as bóias de pesca. Assim, comprámos máquina de produção industrial para esse efeito, alugando a tipografia a outras pessoas. Fui a Itália, comprar e aprender a trabalhar com essas máquinas e durante os preparativos para a viagem, toda a gente me avisava que tivesse muito cuidado, porque os italianos eram isto e aquilo...certo é que foi roubado, dinheiro e documentos na estação de Campanhã, ainda o comboio estava parado. Consegui em 24 horas resolver o problema e no dia seguinte estava a caminho de Itália.
Com a perca dos mercados africanos, principalmente de Angola e Moçambique a indústria têxtil, mal preparada, aliás como quase toda a nossa indústria, começa a definhar. A entrada de Portugal para a CEE (actual União Europeia) deixa caminho livre para os produtos franceses e italianos, muito mais cuidados a nível de design e qualidade, circulem livremente e entrem pelas nossas fronteiras sem a carga fiscal até agora aplicada a esta mercadorias.
Não temos capacidade de aposta em marcas próprias e muitos dos produtos cá fabricados, são vendidos sobre marca estrangeira, deslocando esta mais-valia para outros países. A carga salarial e energética começa a sentir-se e muitas fábricas, algumas delas integradas em multinacionais, começam a deslocar-se para zonas do globo bem mais atractivas para a produção, nomeadamente em salários e direitos adquiridos dos trabalhadores. A nossa mão-de-obra é cara para a qualidade que tem. Os nossos produtos são caros para o nível de vida médio e sem qualidade para quem tem poder de compra mais elevado.
A nossa indústria conserveira, se com a revolução do 25 de Abril vê as portas dos mercados de leste a abrirem-se, com o fim da guerra nas ex-colónias perdem um substancial mercado. O aumento da energia causado pelos sucessivos choques petrolíferos, o aumento dos salários e a necessidade de começar a trabalhar com matéria-prima importada, já que continuámos a não apostar nos nossos recursos marinhos, não são compensados com novos mercados. Mesmo com o fim das taxas aduaneiras, com a entrada de Portugal na CEE, o nosso produto não é competitivo numa base preço/qualidade e em pouco tempo centros conserveiros como Matosinhos, Peniche e Setúbal fecham dezenas de fábricas conserveiras.
Estes dois factores retiram à indústria gráfica muito trabalho, rótulos, etiquetas, embalagens e até o restante serviço de economato diminui resultante do fecho de muitas empresas. É altura de apostarmos noutra área de negócio: pesca desportiva.
Cheguei a Florença, sem uma lira, sem conhecer ninguém (afinal esperavam por mim no dia anterior) e sem um sítio para ficar. Na estação, lembro-me de caminhar pelo cais a pensar nisto mesmo quando ouvi o Ivo a chamar por mim. Tinha-o conhecido umas semanas antes aqui no Porto, tinha-o levado a conhecer a minha cidade, e ele não me tendo encontrado no dia anterior voltou no seguinte à minha procura. Retribuiu-me o papel de cicerone e mostrou-me aquela magnífica cidade que é Florença, a catedral do Duomo, a estátua de David de Miguel Ângelo ou a ponte Vechio são monumentos que ao visitá-los nos dá uma sensação estranha. Afinal, já vimos isto na TV e agora estamos na sua presença ao vivo e a cores. O meu gosto pela fotografia leva-me a tirar dezenas delas. A fotografia como hobby era bem mais interessante que nos dias de hoje. A exposição, a pose, a distância, tudo controlado manualmente e ao nosso gosto. O avanço tecnológico nesta área leva a que as máquinas até fotografem automaticamente, logo que a pessoa esboce um sorriso.
Máquina fotográfica analógica
Tive também a sorte de naquela semana viver em casa do Ivo, da mulher e dos filhos, um dos quais pouco mais novo do que eu. Convivi assim com a tradicional comida italiana, aquela de todos os dias e não a dos restaurantes, apreciando muito os petiscos de uma dona-de-casa italiana. A dieta italiana, sendo meriterrânea como a nossa, distingue-se pelas massas, normalmente acompanhadas de molho à base de tomate, pimentão e queijo. Não é raro as vezes que substituem a nossa tradicional sopa por um prato de massa simples, normalmente esparguete, a que chamam de anti-pasto, não deixando de lado a batata e o arroz como ingredientes da cozinha tradicional. As famosas pizzas foram levadas para a América por imigrantes italianos e daí tornaram-se famosas em todo o mundo. Também o vinho italiano é muito apreciado pelos especialistas. O café expresso, que também nós adoptámos, é originário de Itália. No norte de Portugal é normal chamarmos de "cimbalino" ao café tirado por máquinas de pressão; esta expressão deriva das máquinas "Cimbalin" de origem italiana e os engraçadinhos de outras paragens respondem-nos "- ahh, só temos La Pavone".
No dia de partida, devido a uma greve dos funcionários dos comboios, não cheguei a tempo, de em Pisa, apanhar o comboio internacional e contrariando as indicações de lá ficar e conhecer a cidade e a famosa torre, segui viagem em comboios regionais...Foi nesta viagem que me aconteceu outro dos episódios hilariantes. Viajávamos juntos, eu (português), dois rapazes franceses, um dos quais falava um pouco de inglês, tal como eu e duas raparigas catalãs, que falavam só catalão (e recusavam-se a falar castelhanho) acreditem, bem diferente do espanhol que os nossos vizinhos, aqui da Galiza, falam. Então o francês que só falava francês dizia ao amigo, este traduzia para o meu inglês e eu tentava transmitir num misto de português e espanhol para as catalãs que respondiam, fazendo a resposta sentido inverso até ao “francês francês” e este com cara de espanto dizia que não tinha perguntado nada daquilo... e ficávamos todos com ar de espanto a olhar uns para os outros talvez a tentar perceber quem tinha aldrabado a tradução...
Mais uma vez o trabalhar com o pai, e agora com a falta da mãe, não estava a dar certo. Também o alugar das instalações não corria do agrado, tanto dos alugadores como de nós, alugantes, e por isso pouco mais de um ano depois eu voltei para a tipografia e o meu pai ficou com as bóias. A responsabilidade de gerir uma empresa, passou a fazer parte do meu trabalho. Apesar de gostar do que fazia, sentia que não me integrava naquele ofício e andava meio perdido naquele ambiente. Do escritório para o café e do café para o escritório, fiz aquele percurso inúmeras vezes, perdido no meio de muita gente.
A menina da paragem do autocarro...
Que rapariga simpática, pensei eu naquele fim de tarde de domingo, enquanto esperava o autocarro, para seguir ao encontro dos meu amigos. Ela (sorriu e eu fui atrás...assim não! parece a canção!) retribuiu com aquele sorriso no olhar, que só nós percebemos. Saiu a meio da minha viagem e eu fiquei a vê-la distanciar-se. Que pena, pensei! Voltei a encontrá-la, passados uns dias, outra vez perto de minha casa, entrando num prédio onde eu sabia haver um apartamento, que alugava quartos a meninas de fora, que vinham estudar ou trabalhar para o Porto. Porquê hesitar? Eu tinha, afinal, o número de telefone do apartamento. Alguns meses antes, tinha namoriscado com uma anterior moradora. Telefonei e quando me atenderam fiquei sem saber o que dizer! “Boa! e agora?”: - "posso falar com a menina que acabou de entrar?" Perguntei eu! Alvoroço do outro lado da linha... Veio uma menina ao telefone e começamos a conversar. Durou alguns dias esta situação. Eu via-a entrar e telefonava. Conversávamos um pouco ao fim do dia. Eu achava que estava a falar com a pessoa certa e não sei sequer se ela sabia com quem estava a falar. Até que no Domingo de Páscoa, à noitinha, fiz um telefonema e convidei-a para uma saídinha para um café. Ela não estava nos seus dias, afinal era Páscoa e ao contrário de mim, que nunca liguei muito a esta festa, ela, de origem aldeã, gostava e estava triste por não a ter passado com a família. Nunca me esquecerei; Estava eu no carro à espera, quando ela apareceu (eu tinha acertado!...), atravessou a rua e abrindo a porta perguntou: - és tu?... – Claro! Lá fomos tomar um café, que dura até aos dias de hoje...e, digo eu, ainda quentinho!
...quando a conheci
Apesar da maioria das pessoas ainda designarem por tipografia e por litografia os estabelecimentos de impressão gráfica, aquelas expressões tornaram-se nos tempos que correm, totalmente desadequadas. Se por um lado a “litografia” (na verdadeira acepção da palavra) desapareceu por completo, a “tipografia” caiu tanto em desuso que actualmente são muito poucas as casas que ainda utilizam este método, (o que os tipógrafos chamavam de “chumbo” – afinal, uma liga de metais composta por chumbo - elemento químico de símbolo Pb, tóxico, macio e maleável e com forte resistência - por estanho - símbolo Sn, resistente à corrosão e de baixo ponto de fusão - e por antímónio, símbolo Sb, característico pela sua dureza. A composição destes três metais conferem aos tipos de letra o que se pretende - maleabilidade, durabilidade e dureza com um ponto de fusão baixo – está praticamente posto de parte - actualmente utilizam-se placas de polímero). Quase se pode dizer que evoluíram no mesmo sentido e se fundiram uma com a outra. Por isso será mais correcto falar em “gráfica”. O termo "tipografia" utiliza-se, hoje em dia, para designar a composição do aspecto gráfico geral, quer seja preparada fisíca ou digitalmente. Também se utiliza este termo para designar as fontes (tipos de letra).
Prensa de Gutenberg
Também se faz um pouco de confusão com a invenção da impressão. Há dúvidas acerca dos verdadeiros inventores da tipografia. Já se imprimia antes de Gutenberg, no entanto com grossas placas de pedra (daí o nome “litografia”) ou de madeira que eram tintadas à mão, colocando-se o papel ou o pergaminho por cima e há relatos, de na Ásia, imprimirem com caracteres móveis desde o séc. XIV. Mas Gutenberg, além de inventar o caractere móvel em chumbo, reutilizável e mais resistente, criou o conceito da prensa a partir das máquinas de esmagar uvas. Além disso, investigou e criou tipos de tintas e papéis que no seu conjunto, permitiam a secagem mais rápida, que evitando o escorrer torna o contorno das letras muito mais perfeito. O método de impressão de Guttenberg permitiu a impressão muito mais rápida do livro e por isso a sua maior divulgação, não tendo sido por acaso que foi, através de uma votação a nível mundial, considerado a personagem maior do anterior milénio. O primeiro livro a ser impresso por este método foi a Bíblia.
Bíbla de Gutemberg
Profissionalmente aprendo a fazer orçamentos, facturação e todo o tipo de trabalho exterior, contactando com clientes e fornecedores. Aprendo os cálculos do papel a utilizar, formatos utilizados, tipo de papéis a utilizar neste e naquele serviço, tempos médios de pré-impressão, impressão e respectivo acabamento. Como a maior fatia do trabalho são cartas, envelopes, cartões de visita, blocos de facturas, recibos é este tipo de trabalho que começo a conhecer bem. Durante o tempo em que ocuparam a gráfica, a maioria dos trabalhadores tinham formado uma cooperativa e alguns deles não aceitaram muito bem terem perdido esse estatuto. A evolução dos processos gráficos tem sido grande e nos últimos anos, devido ao afastamento do meu pai, não se fez investimento nos novos processos de transformação e por isso estamos desajustados no tempo. No entanto, com a dispensa de alguns trabalhadores e substituição de outros, começamos a tentar recuperar o tempo perdido, inicialmente começando a recuperar clientes antigos e a angariar novos. Eu continuava um pouco perdido no meio daquilo tudo.
Linotype
A composição tipográfica ainda se faz utilizando uma linotype, uma máquina que a partir de uma caldeira que liquidificando o chumbo, possibilita a composição e fundição, a partir de matrizes, de uma linha inteira de texto. Apesar, de ser uma máquina com mais de 100 anos, ainda hoje, se utiliza principalmente na produção de jornais. Quando apareceu, esta máquina, revolucionou a arte de compor, já que a produção de cada máquina equivalia a 7 ou 8 compositores manuais. Antes do advento dos computadores, deve ter sido a maior invenção tipográfica desde a prensa de Gutenberg. Thomas Edison chegou-se a referir a ela como a "oitava maravilha do Mundo". A composição rápida tornou o livro ainda mais acessível. Também a possibilidade de fundir novas letras, torna a tipografia mais perfeita.
No entanto, são milhares os compositores dispensados e nos que ficam, os vapores tóxicos do chumbo derretido, vão-se tornar a doença profissional da classe, já que causa um envenenamento gradual. Após a 2.ª Guerra Mundial, começam a ser substítuidas pelas fotocompositoras, mas ainda hoje ainda existem tipografias a trabalhar com elas e até com o processo de tipos móveis, em que cada letra é escolhida e montada uma a uma. A sequência do teclado da linotype, o "etaoin shrdlu" ficou célebre entre os gráficos. São as 2 colunas da esquerda de um teclado linotype e eram usadas pelos linotipistas, quando se enganavam; como não podiam facilmente excluir o erro, completavam-na com aquela sequência de letras. O seu "sem sentido" chamava rapidamente a atenção dos revisores de texto. Crê-se também que sejam as 12 letras mais usadas em alguns idiomas europeus. No idioma português, as letras mais utilizadas, estão representadas na ilustração do topo desta página.
Fotopolímero
Começo por adquirir um fotopolímero, uma máquina que a partir de um fotolito, revela gravura em polímero através de um processo de luz e água, que substitui as tradicionais chapas em chumbo. Devido ao elevado custo dos computadores próprios para a actividade, há atelieres especializadas para o efeito que nos fornecem os fotolitos. Eu começo a trabalhar com esta máquina e a integrar-me na profissão. Encostava o fotolito em espelho contra a chapa de polímero e numa gaveta com aspiração, coloco o conjunto a sofrer exposição de luz ultravioleta, durante uns 5 minutos, de seguida colocava a chapa numa cuba, que por rotação esfrega a chapa numa escova imergida em água, até se completar o processo de revelação, secando por ar quente logo de seguida. Está pronta uma chapa para impressão tipográfica, a única que fazíamos nesta altura. Outros trabalhos pela complexidade eram entregues, nesta altura, a outras casas do ramo, funcionando nós como intermediários.
Estamos, como em qualquer profissão, obrigados ao dever de confidencialidade. Por vezes, os clientes disponibilizam ficheiros de nomes e moradas, para prepararmos envio de publicidade por correio. Não devemos utilizar estes ficheiros, quer em proveito próprio, quer comercializá-los ou cede-los a outras entidades.
Do velhinho campo do Salgueiros...
Entretanto casei com a menina da paragem do autocarro, com a Luciana. Optámos por ir viver para perto do Campo do Salgueiros, agora uma estação do Metro. A proximidade do apartamento com o emprego de ambos foi também fundamental. A minha primeira escolha foi ir viver para Rio Tinto, no entanto, um dia em que andávamos a ver casas, a Luciana disse: - "então vim eu da aldeia para a cidade e tu queres-me trazer para ver pinheiros outra vez? Se eu os quisesse ver estava em casa da minha mãe." - "Certo, não se fala mais disso", respondi-lhe eu, –" vamos para a cidade". Fomos então para a casa nova e casámos... foi mesmo assim.
Recordámos por vezes, aqueles tempos em que todos os sábados, lá íamos comprar as nossas coisas, meia dúzia de garfos hoje, outra meia dúzia de facas no sábado seguinte...e o resto da mobília, já que começamos com a cozinha, o quarto e na sala um conjunto de sofás e a televisão.
Para evitar muitas contas, também se decidiu, com a aprovação de maioria, as despesas gerais serem divididas por habitação e não pela permilagem da fracção, já que como as garagens são autónomas da habitação principal, o que daria, a meu ver, grande confusão.
Mas como na reunião primeira que se fez com quase 60 condóminos deu confusão decidiu-se que cada torre devia nomear 2 representantes, para a administração geral das O grupo habitacional onde morámos é composto por 4 entradas, sendo que 2 delas têm 14 habitações e as outras 2, 18 habitações sendo os espaços de garagem e arrumos comuns a todas as entradas de prédio. Assim, foi necessário organizar um condomínio geral comum às 4 entradas, baseado na permilagem pertencente a cada um. No entanto esta base é, nas alturas de votação, atribuída como uma habitação - 1 voto. 4 torres, que tinha as garagens e mais alguns espaços em comum. Aceitei, com a condição de ter poderes para, na maioria das situações decidir. E tinha razões para isso, porque logo a seguir, como estávamos junto ao campo do Salgueiros, foi-nos pedida autorização, por uma estação de TV, para no telhado de uma das torres, instalarem aparelhos difusores de uma transmissão de um jogo. Enquanto eu decidi na hora, que sim, mediante uma pagamento razoável, os administradores das outras torres tiveram de ir solicitar autorização aos representativos. Quando a conseguiram, o jogo já tinha acabado! Perdeu-se uma oportunidade de ficarmos logo com a cotização anual toda paga.
...agora restam os escombros
No início, o meu pai não via com bons olhos a minha relação com a Luciana. Afinal, começava a chegar a hora de eu sair de casa e ele, que não voltou a casar, ficar sozinho. Isso criou uma relação tensa entre ele e a Luciana, chegando mesmo a eu ter de intervir explicando ao meu pai que ela não iria deixar de ser a pessoa com eu queria continuar a minha vida, só porque ele não queria, à Luciana, dizendo-lhe que o meu pai não iria deixar de o ser só por eu casar...a partir daí que se estendessem se quisessem e se não quisessem que não se entendessem...para mim era indiferente...Só amenizaram com a chegada da Joana. Neste ano de 1987 o FC Porto é Campeão Europeu de Clubes pela primeira vez. No ano seguinte nasce a Joana. No dia em que escrevo isto (30 Setembro de 2010), ela partiu para a Universidade do País Basco, para iniciar um estágio. Eu aqui com a lágrima no canto do olho, a Luciana a chorar no sofá e o João meteu-se na cama logo que acabou de jantar...mas no fundo, alegres, pela nova etapa da vida dela...e da nossa também. Chegados a Dezembro, ela veio passar cá uns dias de férias e o Natal com a família. Está mais serena e confiante. A responsabilidade de estar por conta própria parece estar a amadurecê-la.
A chegada da nossa primeira filha veio modificar substancialmente as nossas vidas. Se o primeiro ano de casados foi uma extensão do namoro, agora vivemos um pouco em função da menina. A necessidade de refeições à hora certa, as mudanças de fralda, as indisposições e doenças normais nesta tenra idade, condicionam o nosso dia-a-dia. Connosco os nossos pais utilizaram fraldas de pano, laváveis e reutilizáveis. Comíamos sopa feita em casa e bebíamos leite mantido em garrafas reutilizáveis. Agora, os bebés usam fraldas descartáveis, comem sopa de frasquinhos que são deitados fora e bebem leite embalado em tetra-pack. Ao final de 1 semana de vida, o lixo que eles produzem equivale, em volume, a 4 vezes o seu tamanho. Aos 2 anos de vida, 6.000 fraldas usadas que vão levar mais de 500 anos a serem absorvidas pela natureza. Ainda acha que estamos a contribuir para um planeta melhor?
Gases do efeito de estufa
CO2 - Dióxido de carbono
N2O - Óxido nitroso
CH4 - Metano
CFC - Clorofluorcarboneto
A emissão de gases como o metano e o dióxido de carbono (CO2 - composto químico constituído por dois átomos de oxigénio e um átomo de carbono, essencial à vida no planeta, produzido pelo processo de respiração de organismos vivos, também absorvido pelas plantas no processo de fotosíntese) produzidos pela queima de combustíveis fósseis como o carvão, o petróleo e o gás natural são os responsáveis pelo aumento do efeito de estufa ao reter o calor solar e consequente aquecimento global (o aquecimento da temperatura dos oceanos e do ar perto da superfície, já que a temperatura média do planeta não tem sofrido alterações), este sim, o grande inimigo. A concentração de CO2 na atmosfera começou a aumentar no ínicio da revolução industrial do séc. XVIII, com a utilização massiva do carvão, como forma de produzir energia, continuando a aumentar no início do séc. XX, quando com a proliferação do automóvel, inicia a produção e consumo em grande escala do petróleo e mais recentemente, com a utilização do gás natural nas indústrias e no aquecimento de casas. Se é certo que a queima destes combustíveis aumentou a qualidade de vida das pessoas, também contribuiram para a poluição, ao produzirem estas substâncias químicas.
Tenta-se em conferências (e já vamos na 4.ª), fazer com que se reduzam a emissão destes gases poluentes, que agravam o aquecimento global. O protocolo de Quioto, talvez o mais conhecido, propõe a redução efectiva destes poluentes, com reformas nos sectores de energia e transportes, promovendo o uso de energias renováveis, com a limitação das emissões de carbono e metano no tratamento de resíduos e da energia e com a protecção das florestas. Os EUA, responsáveis por uma grande cota destas emissões não ratificam o acordo, por além, de questionarem a teoria que estes gases sejam responsáveis por o aquecimento global, o considerarem nefasto para a sua economia interna. Também as economias emergentes, nomeadamente os BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), apesar de o ratificarem, não estão nos anos mais próximos sujeitos à obrigação de reduzirem a carga poluente. As grandes nações, como os EUA e a Austrália, trabalham para "manter" estes gases no subsolo e nos oceanos e com eles fertilizarem estas zonas do planeta. No entanto, alguns acreditam, que já vamos tarde na resolução. As grandes alterações climáticas já começaram e que vai ser impossível revertê-las nos próximos anos. Isto irá provocar uma instabilidade climatérica mais acentuada da que agora se sente. O Ártico está a derreter, a Antártida a fragmentar-se, as zonas tropicais começam a desertificar. A subida do nível médio das águas, a submersão de zonas costeiras e o desaparecimento de fauna e flora são uma realidade. Multiplicam-se as secas, inundações e furacões, provocando destruição e morte. Acredita-se que a única maneira de reverter o processo será com uma eventual grande erupção vulcânica, com custos evidentes para as populações e economia locais. A libertação de poeiras vulcânicas em grande quantidade para níveis acima donde é criada a chuva, formariam um escudo protector e reflector dos raios solares e arrefeceria entre dois a três graus a temperatura média da Terra. Quer o aquecimento global, seja causado por poluição de gases, que seja, como muitos também acreditam resultante da variação da actividade solar, a própria natureza resolveria por si só o problema!
Biocombustível
Uma alternativa aos combustíveis fósseis será a produção de biocombustíveis. Mas a procura da matéria-prima para a produção de combustíveis, levou a aumentos dos preços dos cereais necessários para a alimentação. Os altos preços actualmente praticados são catastróficos para países em desenvolvimento, principalmente para as classes mais desfavorecidas, que necessitam do trigo e do milho para a sua sobrevivência. Quando 250 kg. de milho que dariam para alimentar uma criança durante um ano inteiro, servem para produzir só 50 l. de biodiesel, chega-se à conclusão que não é a melhor alternativa. Para a produção de biocombustíveis, cortam-se florestas a direito, abrindo grandes clareiras, e emite-se mais gases poluentes do que com a utilização de petróleo. Sabe-se, por exemplo que o biocombustivel à base de etanol, causa mais danos à saúde humana, à vida animal, à água e à terra do que os actuais combustíveis fósseis. Mostrou-se, noutros países, uma má opção, mas os investimentos feitos têm de ser rentabilizados, quer económica quer politicamente. Tenta-se atingir a meta dos 10% de utilização de biocombustíveis, mas Portugal não é um grande produtor de cereal e teria de importar grande parte dos óleos como matéria-prima. A resposta passaria pela utilização de restos agrícolas e pela arborização de plantas, que não tenham utilização humana e possíveis de plantar em regiões arídas. Mas os responsáveis sabem disto deste 2007! Trataram de alguma coisa até hoje?
Ao arborizar, também fomentariam um mercado de trabalho na agricultura bem necessário, nos dias que correm.
Na última década, os investimentos em energias renováveis têm sido enormes, no entanto, não se têm reduzido substancialmente a emissão dos gases poluentes. Cada dia que passa precisámos de mais energia e a produzida por este método não é suficiente para cobrir este aumento.
Fontes de energia renovável
Uma outra alternativa mais limpa em relação ao biocombustível, é a energia hidraulica e eólica. Portugal que apresenta uma rede hidrográfica vasta, elevada exposição solar e frente marítima que potencializa os ventos atlânticos, aproveitando a energia da água, do vento, das ondas e da luz, fica numa posição privilegiada para a produção de energia renovável, podendo ser pioneiro nestas áreas, diminuindo substancialmente a dependência da importação de energia não renovável e poluente. Sendo certo que os investimentos são consideráveis, são a longo prazo sustentáveis.
O Homem está condenado à auto-destruição se não mudar radicalmente o seu modo de vida. Destruindo o seu habitat natural, ou Homem dá fim à natureza ou a natureza dá fim ao Homem. Acho que esta hipótese será o mais provável.
Os sucessivos desastres ambientais, naturais como o Katrina ou o Tsumani, e os provocadas por negligência, como o "Prestige", o derrame de crude no Novo México ou o derrame de lamas tóxicas no Danúbio, entre muitas outros não contribuem para a despoluição que se pretende.
Se durante a semana estou várias vezes com o pai o fim-de-semana é dedicado a visitar a sogra, a tia e os cunhados e cunhadas em Barcelos, terra natal da Luciana. Se eu sou filho único, ela tem 8 irmãos que regularmente, se reúnem em casa da mãe. Por isso, a minha família engordou muito.
Chapa offset
Na gráfica, continuávamos a encomendar fora a pré-impressão. Mandávamos os textos e as imagens e eles compunham os impressos enviando-nos os fotolitos. Por esta altura já tinha comprado uma máquina “offset” – o offset é um método de impressão, em que uma chapa de alumínio, pré-sensibilizada, de 0,30 mm de espessura é processada também com luz ultravioleta, que sensibiliza a chapa mantendo o que se quer imprimir e dissolvendo o que não se quer num banho químico. A este processo chamamos “transporte”. Colocando esta chapa na máquina de impressão, ela transmite a um rolo forrado com uma espécie de borracha (cautchú) o que se revelou e este rolo, é que vai entrar em contacto com o papel - por isso o nome “offset” ou impressão indirecta ao contrário da impressão dita tipográfica, em que a chapa entra em contacto directo com o papel. Também, como a passagem é rotativa, o produto final, ou seja, a tinta no papel fica mais suave, mais acetinada. A impressão tipográfica como é “chapada”, o aspecto visual é mais rude. Estas máquinas de offset também possuem a particulariedade de, entre cada impressão a chapa ser lavada com água ou mais recentemente com álcool. Esta lavagem limpa-a de eventuais resíduos, quer de partículas de papel, quer de restos de tinta da impressão anterior e confere mais limpeza e nitidez ao trabalho final.
Os tipos em chumbo
O processo de impressão é trabalho minucioso e preciso, por isso o pessoal especializado tem de sobretudo gostar do que faz. Doutro modo, não terão a sensibilidade necessária à observação do que imprimem.
Com esta máquina, abrangemos mais tipos de trabalho e baixam os custos de impressão. Um atraso na entrega de um trabalho pelo nosso fornecedor de fotolito vai ser fundamental para a etapa seguinte.
Densitómetro
Na impressão gráfica, temos também um aparelho que nos facilita o controle da quantidade de tinta na obra impressa – o densitómetro. Um aparelho que mede a intensidade da tintagem no papel. Como a relação velocidade da máquina/ quantidade de tinta disponibilizada pelos rolos tintadores tem de ser constante, cada vez que se dá mais velocidade à máquina se não compensarmos em tinta, a impressão será mais clara. Ora, se numa obra a uma cor isso é fácil de controlar a olho nu, numa obra cromática, em que o papel passa por quatro fases de impressão (ciano, magenta, amarelo e preto) se a tintagem não for uniforme em todas, no final, teremos uma imagem com vários tons. Umas mais amareladas, outras azuladas e outra avermelhadas, não conseguindo ao longo do trabalho, uniformizar os impressos. O densitómetro ajuda-nos a controlar isto. Também nos serve para medir as redes nos fotolitos.
Entretanto, nasce o João, tem a Joana pouco mais de quatro anos de idade. O rapaz, talvez com pressa de nascer, resolve pregar uma partida e nascer no átrio da ordem da Trindade, em pleno Inverno (3 horas da madrugada de 22 de Dezembro). Sem médicos e sem parteiras por perto, foi uma enfermeira, que de passagem completou o parto e o embrulhou num cobertor. Deve ter sido a estreia nestas andanças. Uma das desvantagens da ordem, instituição privada, em relação a qualquer hospital público... em qualquer hospital público, certamente, a disponibilidade dos técnicos de saúde especializados nesta área, seria sempre maior. Aqui até para nos abrirem a porta foi desesperante.
Um dos médicos depois de o consultar, achou que o bebé tinha um problema cardíaco e preferiu chamar o INEM. Numa espera angustiante, eu descia e subia aquelas escadas um sem número de vezes, interrogando o médico, que me dizia que era por precaução. Mas não me acalmava e quando a equipa do INEM chegou, trazia uma incubadora mecânica. Aparatosa, a máquina, ainda provocou em mim uma angústia maior. No entanto o cardiologista da equipa médica preferiu mantê-lo à beira da mãe do que levá-lo para um hospital central. O pior passou e viemos todos passar o Natal a casa.
A descendência
O passo seguinte e que me irá integrar completamente no mundo gráfico, é a compra do primeiro computador. Nesta altura, o Macintosh da Apple, com o seu sistema operativo Mac-OS (macintosh operating system), dominava a preferência dos profissionais gráficos, mas este sistema era caro e, por isso, incomportável para mim. No entanto, a Microsoft estava a desenvolver sobre o seu sistema operativo MS-DOS (microsoft disk operating system) uma interface WYSIWYG - o “Windows”. Assim, decidi-me, por um 486 com 16 MB de RAM e um disco de 256 MB, windows 3.1, dois programas gráfico, o pagemaker para texto corrido e o corel draw para desenho vectorial e edição de imagem, em conjunto com uma impressora laser de 600 pontos por polegada, num investimento de quase 1.200.000$00 (6.000 euros na moeda de hoje) em 1994.
A empresa que nos vende o sistema, oferece-nos um pequeno período de formação e aí vou eu, na companhia de outro funcionário, aprender a trabalhar com o computador. Se ele sabia já muito acerca disto eu nunca tinha visto uma tecla de computador à minha frente e por isso têm de me ensinar tudo... Começamos então com o mais básico, como lidar com o sistema operativo, abrir pastas, gravar ficheiros que então era pelo sistema 8+3 (oito caracteres de nome de ficheiro mais três de designação de extensão - cada uma significa o programa que o criou). Seguindo para o Pagemaker que era, na altura, o programa utilizado pelos gráficos. No entanto, eu queria era que me ensinassem a manusear o Corel. Que quê? "Corel?: - tem de aprender sozinho, não há quem o ensine nem aqui e em todo país não deverá haver muitos." O programa de eleição dos profissionais era o “FreeHand”, que era bom para o sistema Mac, mas que se arrastava no Windows. Mas aprender onde? Não havia escolas para isso, não havia quem ensinasse, internet como a conhecemos hoje, nem pensar. Aos poucos, com o manual de instruções em inglês, fui fazendo uns desenhos muito simples. Lembro-me de estar horas e horas para fazer uma “acção”. De dia, de noite, quando havia um tempinho lá ia eu para o Corel. Até para juntar dois segmentos de recta estive horas...mas lá ia devagarinho, aprendendo conforme as necessidades. Enquanto isso, o funcionário que comigo estivera na formação, fazia no Pagemaker o serviço necessário à produção das máquinas. E quando chegou a hora de imprimir a partir do Corel foi outra aventura; ele não fazia impressão em “espelho”, para nós fundamental. Devido ao efeito cónico da luz na máquina de transporte é necessário que a camada da impressão esteja o mais junto à chapa e isso só é possível se fizermos a impressão “por baixo” do suporte de impressão que sai da impressora laser ou de máquinas de saída de alta resolução - na laser, utilizada para trabalhos em traço ou com um número reduzida de trama utilizámos um suporte de poliester transparente, nas máquinas de saída de alta resolução, utilizada para trabalhos mais precisos e que envolvam fotografia, utiliza-se uma película fotográfica. Se não há remédio, remediado está, simples, faz-se o espelho no próprio software. Parecia sanado o problema, mas não... o software não espelhava as caixas de texto, e quando as convertíamos, perdiam a formatação... Não demorou muito até avançarmos para uma versão superior do programa.
Curioso, começo a mexer em tudo, inclusivé no sistema operativo, e por vezes aquilo encrava. Chamo os técnicos para virem corrigir os problemas. Uma das técnicas, numa das vezes, reclamou que eu não podia mexer naquilo assim. Resposta pronta: -"não posso mexer? Então o computador é meu e eu não posso mexer?" Só me lembro da cara de espanto dela.
Anos antes, o meu primo Joaquim juntamente com os pais, resolvem voltar a Portugal, tendo o José Luís permanecido na África do Sul, onde tinha já constituído família. O Joaquim, após completar estudos, especializa-se em informática e começa a ajudar-me e a ensinar-me muita coisa acerca do funcionamento dos computadores. Eu, com as costas forradas - se alguma coisa correr mal ele arranja - cada vez explorava mais. No entanto, desenhar logotipos começa a ser complicado sem um digitalizador para se obter uma base de trabalho.
Eu tinha um fax, que fez furor quando o comprei. Um aparelho que através de uma linha telefónica, enviava qualquer manuscrito para outro aparelho igual no outro lado da linha. Era normal ficarmos em frente do aparelho a vê-lo processar e com dúvidas telefonávamos para o destinatário a confirmar a recepção. Este aparelho veio facilitar e muito, a vida de muita gente e a nós gráficos muito particularmente. Era norma deslocarmo-nos a casa do cliente inúmeras vezes, para primeiro vermos o que ele queria e depois para lhe mostrarmos as provas necessárias, para confirmação do serviço a executar. Agora as deslocações reduziram muito. Passou a ser possível recepcionarmos um qualquer manuscrito e processá-lo no computador e enviá-lo de volta ao cliente, para aprovação. Aí, o Joaquim tem uma daquelas ideias brilhantes. Ligou a placa de fax do computador a uma linha telefónica, do aparelho de fax mandava-se o documento para o computador e aí estava a imagem digitalizada no monitor. A partir desta base, seria muito mais fácil desenhar o que se pretendia. Durante algum tempo, portanto o meu trabalho baseou-se em preparar a pré-impressão do trabalho gráfico que depois seguia para a impressão. Trabalhos como facturas, recibos, cartas, envelopes começaram a ser feitos por mim. Já se imprimia trabalhos mais elaborados, como calendários, prospectos (flyer’s) mas a pré-impressão era efectuada ainda em gabinetes exteriores.
Começo também a trabalhar com photoshop, para edição de imagem. O pacote corel tem um programa de edição de imagem, mas nunca me entusiasmou muito. Mais uma vez, com recurso a manuais e livros publicados acerca do programa, começo a estudá-lo. O photoshop é um autêntico “iceberg” - mas com o que está à vista lá consegui fazer um catálogo para um dos meus clientes de referência, que eu sabia à partida que qualquer coisa que corresse mal, não seria muito grave. Com um digitalizador que o meu primo me arranjou, lá processei umas fotos de embalagens de colas e vernizes que tinha obtido com a máquina fotográfica que eu tinha na altura, e lá fiz um A3 com fotos dos dois lados do papel. Quando dei o trabalho por finalizado, chegou a hora de o fazer sair do computador para os suportes de impressão. Tinha que o levar para o gabinete de saída, mas como? O trabalho final tem 80 MB, as disquetes, suporte amovível preferencial na altura, só têm capacidade para 1,4 MB. Havia, e há, um processo de colocar em disquetes um ficheiro maior, repartindo-o por várias, mas apesar de não ser muito fiável, tinha que ter muitas disquetes. Entrei pelo gabinete deles e partiram todos para a gargalhada geral - eu levava o computador debaixo do braço, qual portátil. - "Oh Sr. Lima, dizia qualquer coisa e nós emprestávamos isto." Disse o Filipe, do gabinete de fotolito, apontando para um pequeno aparelho azulado – era uma “drive” que suportava ficheiros até 100 MB – a “zipdrive” . Não tardou muito a que eu tivesse uma. Nesta altura os computadores têm uma “rom - read only memory” muito mais pequena que os actuais tem de “ram - random acess memory” . Quer dizer, temos actualmente uma memória virtual para processar o que estamos a fazer no momento, do que tínhamos para armazenar tudo o que queríamos. Não é difícil imaginar que, passado um tempo, o meu computador tivesse três discos internos. O que acontecia muitas vezes é que executávamos uma acção e podíamos ir tomar um cafézinho.
Suportes informáticos
Hoje, temos as flash-drives, pequenos objectos com grande capacidade de armazenamento (milhares de disquetes num pequeno objecto que se trás no bolso) que permitem o transporte de dados de um computador para outro, que fizeram das tradicionais disquetes objectos de museu, enquanto a chamada nuvem informática não estende o seu domínio, disponibilizando-nos além do espaço necessário para guardarmos os nossos ficheiros o próprio software na medida das nossas necessidades do momento. Não mais espaço nem software sub-utilizados e sem preocupações de podemos ter ou não aquele programa que só vamos utilizar uma vez. Para quê comprá-lo se o podemos alugar por umas horas? O, agora, computador passaria a ser apenas um terminal, que serviria para aceder aos nossos dados e programas que estariam instalados algures na nuvem, à nossa disposição de e em qualquer lugar, quer fosse no nosso terminal ou de outro qualquer disponível na altura. Já fazemos isso com o e-mail, com fotografias, com determinados documentos, com a nossa agenda, actualizando-a em qualquer momento. Porque não fazê-lo com tudo? E remeter as tão famosas "pen" para a prateleira.
Mais uma vez, o meu primo entra em acção. Instala-me um programa e mostra-me o funcionamento dele. – Olha, tens aqui uma casa e metes um número, aqui tens outra e metes outro número e aqui nesta dá para somar as duas! Olhei para ele como quem diz. - Este tipo endoideceu, para que quero eu isto?
Por vezes até me esqueço de ir para casa. A Luciana mostra-se à altura e mesmo com dois filhos atura as minhas distracções todas. É a trave mestra, a minha âncora.
A Internet
Apesar da Internet ter iniciado os seus primeiros passos 40 anos atrás, é após a 1.ª Guerra do Golfo, que ela se começa a manifestar globalmente. Tornara-se indispensável como plataforma de trabalho durante os movimentos de guerra entre os Estados Unidos e o Iraque e ouvia-se falar de vírus introduzidos nos sistemas iraquianos a partir de satélites americanos - acho que nunca conseguiram esses intentos.
Apareceu o Joaquim com um pequeno aparelho lá no escritório e mais uma vez começou uma aventura. Instalou as “drives” necessárias, ligou e depois de uma série de sons um pouco estranhos, entrou num sítio. Era uma coisa meia estranha, com uns textos e umas imagens. Não se sabia bem como aquilo funcionava, íamos de uma página para outra e desta para aquela. Contava como uma chamada telefónica e, taxada ao minuto, era caro...as contas de telefone – naquela altura da PT - aumentavam de mês para mês, por isso as ligações eram feitas sobretudo durante à noite, no horário económico.
O Altavista era uma espécie de motor de busca que nos dava o endereço de BBS’s - Bulletin board system”, comunidades que disponibilizavam software, jogos e fotografias muitas das quais de cariz erótico e pornográfico. Também permitiam fóruns em que se punham as mensagens para os outros membros. Para fazer o download de qualquer coisa por mais pequena que fosse, demorava minutos. Não tardou muito a aparecer o yahoo e, a nível nacional, o “sapo - servidor de apontadores portugueses”, inicialmente um projecto da universidade de Aveiro, os primeiros motores de busca como os conhecemos na actualidade. Estes dois projectos vieram ajudar em muito o conceito de busca na Internet. Já podíamos procurar num espectro maior e actualizar os programas mais regularmente. Ao acompanharmos as páginas dos fabricantes, ficávamos a conhecer as novidades mais rapidamente, bem assim como os erros das versões que possuíamos e, como utilizadores registados, eram facultadas correcções gratuitamente.
A google, (um erro ortográfico de palavra googol) apareceria depois, com o sucesso que todos conhecemos, curiosamente a partir de ideia de dois estudantes da Universidade de Stanford-USA, a mesma de onde tinha surgido o projecto yahoo. Nos dias de hoje, o recurso à internet tornou-se prática corrente, quer para pagamentos de contas, consulta de extractos bancário ou entrega de declarações de impostos, quer para nos mantermos informados através de jornais e revistas online.
O primeiro servidor da "Google" foi montado num caixa construída com peças "Lego"
O, agora, vulgar e-mail (electronic mail ou correio electrónico) começa a ser prática comum entre pessoas e entidades. As mensagens que circulam são obrigatoriamente curtas e normalmente só de texto, já que as respectivas caixas de correio são pequenas. O smtp e pop são os protocolos necessários para o bom funcionamento das mensagens de e-mail e diferenciam-se das páginas de Internet por o sinal “@” no meio do endereço. No entanto, também começam a ser um veículo perigoso nos que diz respeito à segurança dos próprios computadores e principalmente de pessoas e bens. Vírus, spam, mal-ware começam a ser palavras do nosso dia-a-dia. Aparecem também os canais de mIRC, conversação online, talvez o precursor das famosas redes sociais de hoje, onde quem não aparece no "Facebook" não existe! Nos dias que correm, muitas e várias pessoas colocam na rede social, os seus contactos, as suas fotografias, onde estão nas férias, quando não estão em casa, disponibilizando estas informações aos amigos e aos estranhos, acabando por terem as casas assaltadas e as suas fotografias e contactos em sites promotores de encontros e acompanhamentos não muito recomendáveis. Estas redes sociais, não são só instrumentos que permitem introduzir estranhos nas nossas vidas, mas também tornar visível a nossa própria rede de amizades. O "amigo" do "amigo" é adicionado à nossa rede sem perguntar porquê. O "amigo" do nosso "amigo" quer ser nosso "amigo" também. A globalização das "amizades" é uma realidade. "Conhecem-se" pessoas do outro lado do mundo sem conhecer os nossos próprios vizinhos com quem nos cruzámos diariamente. Estas redes até contribuem para o desenvolvimento da escrita ao permitirem que certos vocábulos se desenvolvam. "Desamigar" é talvez o mais recente exemplo da mudança da própria língua portuguesa.
Depois de alguns trabalhos menos conseguidos e por causa disso mesmo, começo a conhecer melhor a forma de funcionamento dos programas que uso diariamente e num deles depois de digitalizar as fotografias e as trabalhar no photoshop, o produto final saiu uma tragédia. As fotos além de terem um brilho muito intenso, não contrastavam. Afinal, o monitor que eu tinha não era apropriado para este tipo de trabalho. Mais um investimento que se teve de fazer, aproveitou-se e comprou-se uma máquina completa e mais sofisticada do que a anterior. Nessa altura, eu fiquei a trabalhar com esse computador mais moderno, enquanto outra pessoa ficou com o mais antigo. Aí, com um computador por minha conta, desenvolvo no excel um conjunto de folhas de cálculo para orçamentar as obras. Afinal, aquela tralha, que o Joaquim tinha trazido e que somava nas “casinhas” servia para mais alguma coisa, já que além disso e das restantes operações aritméticas, tinha outras que bem utilizadas completava o que era necessário para uma boa ferramenta de trabalho, o que automatizou totalmente a orçamentação. Não tardou muito até que a facturação e a abertura das folhas de obra fossem efectuadas pelo mesmo sistema.
Na tipografia, faz-se a separação de resíduos por diversas categorias: o papel é dividido em 3 lotes; apara branca, apara de cor e ao que chamamos papel velho que compreende todo o papel que não sai do aparo. É vendido aos lotes a empresas licenciadas para a sua recolha e reciclagem. Ainda fazemos separação dos seguintes resíduos: das chapas de offset usadas (alumínio), dos restos de película fotográfica do processo de revelação, dos líquidos provenientes do processamento fotográfico, da lavagem da chapa offset e das lavagens dos rolos de máquinas de impressão. Nestes temos de pagar o processo de reciclagem a empresas que o façam. Alguns destes resíduos são processados pelas empresas que nos vendem os produtos em primeira-mão. Evitámos deste modo o envio destes líquidos para a rede de saneamento pública, com a consequente poluição que possam produzir para a vida animal. Não são, infelizmente, raros os casos de extrema contaminação, provocados pela descarga de resíduos altamente poluídos. Os mares, rios, lagos têem servido como caixotes do lixo até por entidades com responsabilidade na prevenção dos mesmos.
Dois mais um? Quantas vezes esta combinação resultou em conflito? Na nossa vida? Na sociedade? Nas conquistas do poder? No entanto não seriamos nada sem ela! Gostaria de ser um vértice deste triangulo? Perguntado assim a maioria de nós diria que não! Duas moléculas de hidrogénio e uma de oxigénio? Já soa melhor? Sem ela, sim, sem a água que seriamos nós? Se calhar nem existíriamos! Então porque a tratamos tão mal? Porque a desperdiçamos sem limite pensando que não tem fim! Repare então nos locais do planeta onde ela escasseia na sua forma mais vulgar! Nos deserto, nas zonas do globo em que ela é mais escassa! Nos povos que percorrem quilómetros a pé para uma celha de água? Nas zonas do globo em que é gelo. Pensemos agora nos produtos poluentes que lançamos à água todos os segundos! Papel, plástico, filtros de cigarros, madeira, borracha e todos os objectos que julgamos excedentários. Agora pense que sem água, o seu corpo envelheceria em poucas horas! Que sem água o seu cérebro seria 10% do que é! Que sem água o seu sangue seria tão espesso que não circularia! Ainda vai continuar a querer ofendê-la?
Alguns países, instituições e cada vez mais pessoas estão sensibilizadas para a preservação ambiental, mas será o suficiente?
Temos ainda os restos das chapas de fotopolímero, uma mistura de plástico e de aço que, ao que sei, ainda não há empresa especializada no processo de reciclagem deste resíduo. Temo-las guardadas à espera!
Pouco após o nascimento da Joana, a empresa em que a Luciana trabalhava fecha as instalações aqui no Porto e depois de ter percorrido mais um emprego por pouco tempo, decidimos que iria trabalhar comigo. Deste modo, apesar da Joana ter frequentado o infantário, aí pela 4 da tarde passa a ir para as instalações da empresa, dividindo o tempo entre estas e a casa do meu pai, que continuava a morar, agora sozinho, – a minha avó após o meu casamento começou a viver em casa do meu tio – por cima das instalações da empresa. Assim parte da educação dela é connosco mais presente. Com o João passa-se a mesma coisa, até que um dia vê-me pousar um “cortante” – molde feito em lâminas que serve para modelar o papel em corte de certos serviços como embalagens e convites recortados - em cima de um lote de “paletes”. Curioso, trepou por elas acima até meter os dedos nas lâminas. Escusado será dizer que foi para o hospital de urgência levado pelos empregados da oficina – eu não estava, contou-me a Luciana logo que cheguei – para levar pontos nos deditos. Felizmente, não ficaram mazelas deste pequeno incidente.
Estamos aqui vai para 10 anos. Quando cá chegamos, a casa estava com a área privada alcatifada que com o uso foi degradando e está em tempo de substituirmos por um outro revestimento. Como até os pavimentos sofrem alterações conforme a moda! Em casa dos meus pais, alcatifaram quase toda a casa, colocando esta em cima de um óptimo pavimento de madeira. Agora levantamos a alcatifa para se colocar pavimentos de madeira. Óptamos por pavimento flutuante. Mais uma vez aprendo uma arte. Decido meter mãos à obra e realizar eu mesmo a mudança do pavimento...com os conhecimentos que adquiri ao fazer uma pequena revista de pavimentos e mais uns conselhos dali e daqui, começo a comprar o material necessário. Para dois quartos e um corredor de acesso, 35 a 40 m2 de pavimento é o suficiente, mesmo com os recortes que é necessário fazer. Aconselhado por uma casa do ramo, escolhemos um com 4 mm de madeira nobre por oferecer mais resistência ao desgaste ao invés de outros, em que esta parte é mais pequena, cola, os mesmo m2 de uma esponja própria, que vai servir como material de isolamento sonoro, climático e de amortecimento, que se estende entre o cimento e o revestimento, cunhas, cintas de aperto, martelo de borracha e um batente de madeira, uma serra, de preferência eléctrica, para recortes, também é fundamental. Esta serra, também chamado de tico-tico, possibilita os necessários recortes da madeira junto de portas e lambris. O segredo está no deixar entre a madeira e as paredes uma folga de +/- 15 mm para a madeira “viver” e assim ao expandir, não levantar do solo; também é de bom trabalho o deixar os finais de régua afastados dos finais da fila anterior. Com réguas de madeira macheada só se aplica cola nas uniões e bate-se com o martelo de borracha protegendo com o batente de madeira a régua até a união estar perfeita; com as cintas vai-se apertando o conjunto já aplicado e torna-se um trabalho fácil e de certa maneira agradável de fazer. O pavimento pré-acabado também evita o seu envernizamento ou enceramento no local e por isso evita também mão-de-obra acrescida. Aproveitámos a altura para pintar a casa, com tintas anti-fungos que evita o aparecimento de bolor, provocado pela humidade normal. A substituição deste pavimento pela alcatifa mostrou-se bastante razoável, já que o pavimento em madeira não acumula tanto pó como a alcatifa e por isso a qualidade do ar desta zona da casa, melhorou.
O convívio dos meus filhos com o avô é bom e liberta-nos um pouco para outras tarefas. Também agora a relação da Luciana com o meu pai, agora com os netos, também normaliza, apesar de ter ficado sempre uma mágoa nela.
Um dia, ao princípio da tarde, chegou o meu pai até mim e muito normalmente conta-me que tem um pequeno “carocinho” no pescoço e que vai ao hospital ver o que é. Passaram-se várias horas até eu me desloquei ao hospital, para saber o que se passava. Uma das médicas, logo que soube quem eu acompanhava disse-me que teria de falar comigo: - "o seu pai ou não tem nada, ou tem poucos meses de vida." - "o que se passa, doutora?" Perguntei eu. Tinha já nódulos disseminados por pulmões, fígado e mais alguns órgãos que rapidamente se espalhariam pelo restante corpo. Tinha linfoma de Hogkin.
Os consequentes tratamentos de quimioterapia não tardaram a surtir efeito. Se por um lado possivelmente, ajudam na recuperação da doença, por outro deixam-no tão arrasado que não tem forças para voltar, após os tratamentos para casa, sozinho. Por teimosia não me avisa que precisa dessa ajuda e arrasta-se para casa. Chega, a cada dia que passa mas cansado. Não compensa esse cansaço com alimentação e cai num estado de exaustão extremo. Mas com o tempo parece recuperar um pouco da situação. Visita-me nesse Natal, ceando em minha casa, muito bem disposto. Passado poucas semanas, a doença regrediu. Mais alguns nódulos aparecem agora disseminadas pelo corpo todo. É internado, para intensificar os tratamentos. Os médicos dizem que a hipótese de cura é muito ínfima, mas ele continua a acreditar, ou a tentar fazer-nos acreditar que acredita na cura. Depois do que passei uns anos antes com a mãe, não nego que muitas vezes me veio a ideia de conversar com ele acerca da eutanásia. Mas que dizer a alguém que não tem mais do que umas semanas de vida. Só se for o próprio, no pleno uso das suas faculdades mentais o sugerir e até com insistência o ordenar que o façam. Após a alta dada pelos serviços médicos, trouxe-o para, infelizmente, passar os últimos dias em casa. Mas como ? Sem a devida preparação, não sei como lidar com uma pessoa muito debilitada fisicamente, que se recusa a alimentar (horas passaram para comer um simples iogurte!). Até que na sua teimosia, por uns momentos que me ausentei tentou chegar à casa de banho, sozinho. Caiu! Passado pouco tempo, tive de chamar os médicos e interná-lo novamente, e nesses dias de internamento, as suas capacidades mentais começam a diminuir. Como acabar com aquele sofrimento? Mais uma vez, via uma pessoa querida a definhar aos bocados... Nesses casos a eutanásia será aconselhável? Ou deixar a pessoa morrer e completar o seu ciclo de vida neste mundo? Se não está nas suas capacidades mentais plenas, como podemos recomendar a sua morte antecipada?
Será o direito de morrer igual ao direito de viver? Quando a pessoa está no uso das suas faculdades mentais? E como saber se o está? Se a sociedade permitir que uma pessoa no uso das suas plenas capacidades mentais pode decidir, pode pedir a eutanásia por motivos de doença ou incapacidade física, como poderá recusar noutras circunstâncias? Se uma pessoa pedir a eutanásia só porque quer desistir de viver? Poderemos aceitar? Sabemos que Rámon Sampedro o quis. Tetraplégico há 26 anos, solicitou a médicos a a amigos que o ajudassem a morrer. A justiça espanhola não o consentiu e amigos ajudaram-no nesse propósito, arcando com as devidas consequências do acto que praticaram. Mal ou bem, fica nas suas consciências! Mas Terri Shiavo? Por acidente cardiovascular perdeu as capacidades mentais. Criou-se um conflito entre o marido e os pais da doente, pela suspensão dos suportes que a mantinham viva! Enquanto a Ramón, pessoa amiga e especializada em cuidados médicos preparou uma substância venenosa que colocando num copo com palhinha ao alcance do doente possibilitou a Ramón acabar com a própria vida, a Terri , um tribunal autorizou que lhe fosse retirada a sonda e permanecer assim até a vida se extinguir .Mas até que ponto a doente estaria consciente do acto sobre si praticado? A medicina considerou-as em estado vegetativo, mas até que ponto se conhece os mecanismos do cérebro humano para determinar isso? Teria ela se apercebido do que a rodeava?
Na antiguidade, a eutanásia era praticado por certos povos, para sobrevivência da comunidade. Vários povos, de várias culturas e religiões, de muitos pontos do globo a praticaram como forma de limpeza da sociedade. Nómadas e povos em guerra praticavam-na nos seus feridos e doentes, para que não atrazassem o grupo e para não cairem em mãos inimigas e fossem objecto de tortura. Doentes incuráveis, crianças deformadas, velhos eram eliminados como forma de não sobrecarregar a sociedade.
Se por um lado a ciência, se divide entre favor e contra, a religião é abertamente contra qualquer forma de atentado à vida...Vários argumentos contra e a favor podem ser consultados em vários sítios da internet. Acho que cada caso é um caso e só por si deve ser analisado, não havendo hipótese alguma de uniformizar um certo número de circunstâncias.
O pai acaba por falecer devido à doença. Nessa altura o João tem pouco mais de 5 anos e por isso não o levamos, nem ao velório, nem ao funeral. Passados uns bons anos, já adolescente, falou nisso. Quisemos protegê-lo na altura mas, agora, penso que devíamos tê-lo deixado fazer o luto pelo avô. Não demora muito até a minha avó, o meu tio Toneca, a minha sogra e a tia da Luciana, a “Milhaurinda” como a chamavam e que sempre viveu com eles, nos abandonem também. As idas à aldeia, perdidas as referências, tornam-se mais esporádicas. Agora o telefone e o telemóvel é o meio de comunicação preferencial e com os sobrinhos, gente mais nova o SMS e o MSN também são utilizados.
Com o avanço da tecnologia os telemóveis pesados e agarrados ao carro começam a diminuir no seu tamanho e tornam-se objectos de culto, (até ministros contam anedotas acerca deles, no parlamento ). Mais básicos do que os actuais, apenas servem para telefonar e só alguns deles permitem já as agora vulgaríssimas SMS. No entanto como a rede ainda era deficitária, só nos grandes centros urbanos era possível a sua utilização. Também seguindo a linha do desperdício, são vendidos em embalagens enormes muito atractivas mas, mais um factor para a grande poluição urbana de que somos vítimas. Com o avanço tecnológico os telemóveis de hoje fazem cada vez mais parte do dia-a-dia. Enquanto a camada mais jovem serve-se dele como máquina fotográfica, agenda, relógio, para navegar na internet, para jogar, a camada mais idosa utiliza-o para a sua missão principal, manter-se em contacto. Também é evidente que servem de cartão de visita como mostra de um extracto social, por vezes falso. Não é à toa que se chega a qualquer lado e se coloca o objecto à vista de todos... por isso quanto mais recente, quanto mais moderno, melhor. E depois naqueles sítios em que se recomenda silêncio (igrejas, cinemas, salas de aula), não é poucas vezes em que os toques irritantes dos telemóveis acontecem, alguns deles até acho propositados. Se por um lado, este pequeno aparelho veio aproximar as pessoas, também as distancia, não sendo caso raro, num encontro, um toque de telemóvel interromper uma conversa, levando a rotura de certos diálogos bem mais interessantes, sobrando aquelas pessoas que no meio de qualquer conversa, prestam mais atenção ao telemóvel que ao interlocutor, não parando de mexer e remexer no objecto, atitude bem aborrecida. Os perigos para os mais jovens também aumentaram, sendo estes presas fáceis de pessoas e empresas menos escrupulosas, quer por o aliciamento a actividades menos próprias, quer com a venda desenfreada e quase sem controlo de serviços de valor acrescentado. No entanto bem utilizado mostra-se um objecto útil.
Uma série de erros de gestão, atiram-me para uma situação complicadíssima. Um aval bancário a um amigo vai-se transformar num inferno. As coisas correm mal e uma data de bancos caiem em cima da empresa e de mim. A empresa leva com um processo de falência e eu caio numa depressão que vai durar uns anos.
Não me posso esquecer. Não me quero lembrar. Porquê esta angústia, esta ansiedade?...Falta tanto para amanhecer! Porquê esta angústia quando amanhece? Bebo mais um trago deste inferno que me dói, que me arde! Deste dia-a-dia sem horizonte! Os efeitos da depressão chegam que nem vaga de tsunami, num período de férias ocasionais. De repente, encosto numa ombreira e choro sem parar, sem ter força para parar, sem querer parar. Os filhos, aflitos e admirados por verem o pai assim, com a tristeza estampada nas caritas, assistem a tudo sem compreender, mas talvez sentindo a minha ausência. Hoje, eles já grandes, por vezes olho para trás e sinto que perdi algo. Sem conseguir falar, lá me deixo arrastar até casa.
Como terapia ocupacional...fiz alguns trabalhos em estanho
Agora reconheço que preciso de ajuda, que este estado é um problema para mim e para a família, que atinjo fortemente. O tratamento a que me sujeito vai demorar muito tempo. Aí sim, a Luciana torna a mostrar a fibra do que é feita e aguenta tudo. É o suporte desta família. Também devido a um acidente – um tombo naquelas meias paredes que em certo tempo fizeram nas paragens de autocarro – fiquei sem acção num pé. Ao afastar-me da borda do passeio, tropecei no muro e caí desamparado, lembro-me de duas pessoas que também estavam na paragem a olhar para mim como se eu fosse tolo e não me ajudarem enquanto me contorcia com dores. Mas lá me consegui levantar e passados uns dias ao subir as escadas, a biqueira do pé não levantava, fazendo-me tropeçar em cada degrau. Não ligando este problema à queda, consultei uma série de médicos que não davam solução ao caso, mas ligavam este problema a sintomas neurológicos derivados ou da depressão ou dos medicamentos que tomava para a debater. Lembro-me que um dia nas compras em Sá da Bandeira, não ser capaz de andar...
Consultei um iridólogo. Diziam que as medicinas alternativas seriam um bom método para me curar. Apesar de a primeira consulta ser gratuita, a catrafuada de medicamentos naturais que me receitou, deve ter pago da primeira à última consulta. Zinco, cobre, ferro e um sem número de comprimidos, porque uns faziam isto e outros aquilo, tomados uns a estas horas, outros aquelas...senti-me enganado!...
Ao visitar umas Caves, ao João, ofereceram-lhe um pequeno kit de um barco rabelo. Pediu-me para o montar e fi-lo com tanto gosto que, ao ser exibido à professora, lhe foi solicitado que eu construísse o dela. Tinha montado um estaleiro em casa e nos meses seguintes construí, construí, construí barcos, barquinhos e naus (e tormentas com a mulher e com os filhos...já que praticamente deles me esqueço), todos de vela, desde o Cutty Sark à São Gabriel de Vasco da Gama, dos quais guardo alguns para não me esquecer de um negro período da minha vida. Foi o tempo que agarrava uma pequena santa de madeira que, acho eu, era da minha mãe. Ainda hoje contam certos comportamentos e reacções que tive e não me lembro absolutamente de nada. Episódios engraçados, outros menos, outros deploráveis que estão algures esquecidos à espera de não sei bem do quê! Alguns amigos!? (ou não), manifestam-se agora.
Na conversa com um amigo, conto-lhe o que se passa comigo, ele, aconselha-me a procurar a seguradora de acidentes de trabalho da empresa, já que a queda foi no trajecto do emprego para casa. Procuro-a então, e esta envia-me para o hospital, fazer uma série de exames neurológicos, que não acusam nada de especial nesta área. Então um médico, lembra-se de fazer um exame ortopédico, quando lhe falei da queda e descobrem uma pequena mazela no nervo condutor da reacção. Apesar de me ter queixado da zona do cóxis é num joelho que está a mazela. Numa perna a velocidade de resposta do nervo condutor é de 100 m/s noutra é de 10%... Fiz fisioterapia e hoje, aparte de umas pequenas dores de vez enquando, acho que curei.
Depois de tomar o pequeno-almoço em casa, um iogurte embalado em plástico que envio para o geral da reciclagem, saio para a rua. No primeiro café paro onde tomo um café, curiosamente também servido num recipiente de plástico e com uma colher também de plástico. Por necessidade do dia almoço num fast-food. A sandes embrulhada em papel, as batatas num saco de cartão e a bebida num copo de plástico com uma palhinha que retiro, mais um café servido num copo que ainda não sei de que matéria é feita mas parece entre plástico e cartão prensado…tudo servido num tabuleiro de plástico adornado por um toalhete de papel…no final só se aproveita o tabuleiro...o resto vai para o lixo, plástico e papel tudo junto. Meio da tarde, o ritual do costume, um café, como ando fora do meu círculo habitual, servem-no outra vez em copo de plástico adornado com uma colherzinha também em plástico. Após jantar, em casa finalmente, saímos para um pequeno passeio, que acaba num centro comercial, comprámos um balde de pipocas e mais um jarro de coca-cola, as pipocas em saco de papel, a coca-cola num balde de plástico. Enquanto as comemos assistimos a uma sessão de cinema. Ao chegar a casa mais um iogurte de beber, também embalado em plástico.
Não é verdade, mas podia bem ser. Ao final do dia tinha desperdiçado só em embalagens que podiam ser reaproveitadas, ou usando as mesmas ou utilizando outros materiais mais resistentes (e não há café melhor do que o bebido numa chávena de boa porcelana) um total de 50 g. de matéria-prima. Estamos numa sociedade de desperdício, ao invés de uma sociedade de aproveitamento, bem mais necessária nos dias que correm.
Entretanto com a perspectiva da falência, que acaba por acontecer, a Luciana sai e começa a trabalhar noutro sítio. Trabalho agora como designer numa outra gráfica, tendo as funções que desempenhava anteriormente. Muitos dos clientes seguiram comigo nesta nova etapa.
Rooney e Cuca
Nós, os irmãos e cunhados, sobrinhos, costumam-se reunir, aos domingos, numa pequena praia para os lados de Esposende. Num desses encontros, um cachorrito começou a correr e a brincar com os meus filhos, corria atrás do João e a Joana atrás dos dois. Chegados ao fim do dia, o cachorro ainda lá andava às voltas com eles e com bastante insistência, pediram para o trazer para casa. Acedi, com a condição de no domingo seguinte, irmos novamente aquela praia, para ver se encontrávamos o dono, já que ele não estava por aí maltratado. Pelo caminho discutimos o nome que devíamos dar ao cachorro e por sugestão da Luciana ficou "Rooney", tal qual o jogador de selecção inglesa, que nesse dia jogava contra Portugal, para o campeonato de Europa, que decorria. Como combinado, no domingo seguinte, lá estávamos na mesma praia, à procura dos donos do cachorro. Até que ele desapareceu. - "Pronto, já encontrou o dono.," Disse eu. Qual quê? Tinha vindo para junto do carro. Talvez com medo que o deixássemos lá ficar! Tinha adoptado esta família. Foi com ele que a Luciana, com uma depressão na altura, melhorou bastante.
Recentemente, a Joana, como prenda para um amigo, foi à Protectora e trouxe uma cadelita, preta, muito mal tratadinha, mas porque foi a única que na altura, no meio de mais três cadelas, se levantou e veio ter com ela. Por circunstâncias diversas, a "Cuca" como eu lhe comecei a chamar, ficava muitas vezes em nossa casa. Adopta-me como dono e sempre que faz alguma asneira, típica da idade, e alguém lhe ralha, refugia-se em mim. Acabou também por ficar em nossa casa e agora, os dois, são a nossa companhia (minha e da Luciana) quando os filhos, já quase adultos, saem com os amigos.
É com eles que passeio todos os dias à noite – e é durante estes passeios que penso no que vou escrever. Companhia de casa, são também a beatriz e o teodoro, um casal de periquitos, que também chegaram a casa por acaso.
Um dos meus cozinhados
Começo a chegar a casa mais cedo do que a Luciana, e aí, eu, que nunca tinha estrelado um ovo, em condições comestíveis, começo a cozinhar. A minha única experiência de cozinha, tinha sido quando a Joana nasceu e as trouxe, mãe e filha, para casa. A Luciana pediu-me para lhe levar qualquer coisa para comer - levei-lhe uns ovos fritos, mas com um aspecto.!..(felizmente as minha cunhadas chegaram quase a seguir) e uns bolos de farinha ao alto que são muito fáceis de fazer. Lá me fui aperfeiçoando e hoje cozinho com prazer e os meus cozinhados são alvo de muitos elogios, não só pela mulher e pelos filhos, mas até pelos convidados, já que para além da refeições normais da família, já sou eu que cozinho para as ocasiões especiais. Além da cozinha tradicional portuguesa até alguns pratos mais arrojados, sinto-me à vontade para os confeccionar. Desde os tradicionais rojões, comida bem portuguesa a massas com os tradicionais molhos italianos que a família muito aprecia. Tornam-se engraçadas as discussões acerca da maneira de cozinhar de cada um de nós. Se antigamente para mim como ela preparava as refeições, estava sempre bem, agora já tenho uma opinião própria acerca da cozinha. E isso parece atormentá-la...mesmo a maneira como utilizamos os apetrechos é diferente... deve ser uma questão de género...a cozinha tornou-se "pequena" para os dois.

Não confundindo com estereotipos sexistas, a mulher e o homem são muito diferentes na maneira de calcular o tempo e as distâncias, na comunicação, no envolvimento em certas profissões. Resultantes de milénios de habituação, uns e outros apuraram mais os sentidos nesta ou naquela tarefa. Um exemplo: nos primórdios quando os homens iam à caça ou pesca, as mulheres ficavam na aldeia e enquanto preparavam as tarefas e olhavam pelos filhos, ainda falavam umas com as outras; os homens na sua tarefa de caçar ou pescar tinham, apesar de em conjunto, manterem-se silenciosos, ou as presas fugiriam. Por isso os homens conseguem, ainda agora, estarem na companhia uns dos outros e manterem-se calados.Para as mulheres isto é praticamente impossível. "Os homens nunca ouvem nada e as mulheres não sabem ler mapas de estradas". Porque é que os homens nunca encontram nada no frigorífico? Porque é que os homens não conseguem fazer mais do que uma coisas ao mesmo tempo? Porque é que as mulheres têm dificuldade em fazer marcha-atrás? Porque é que os homens evitam o compromisso e as mulheres nunca parecem ir directas ao assunto? Porque são diferentes. Um homem vai à casa de banho unicamente por uma razão, as mulheres fazem da casa de banho um clube social. Toda a gente acharia de mau gosto um homem perguntar a outro: "Queres ir à casa de banho?". As mulheres vão para lá aos magotes e ninguém parece estranhar. Chamem química ou genética, milénios de vivências diferentes, tornaram-nos diferentes. Toda a gente o sabe, poucos estão na disposição de o admitir.
Roda dos alimentos
Baseamos a nossa alimentação em pratos de carne, vermelha ou branca e o peixe que não é tão frequente como devia ser. Tentamos variar o acompanhamento entre as batatas, o arroz e a massa não esquecendo o feijão. Também a época do ano tem influência na nossa alimentação. Se nos meses quentes comemos mais saladas frias, nos meses mais frios os jantares são mais abundantes em alimentação mais calórica. Preferimos os grelhados e os cozidos, mas não pomos de lado completamente os assados e fritos. Tentamos fazer uma alimentação equilibrada e os legumes, crus ou salteados estão presentes em quase todas as refeições da noite, já que baseamos os almoços em enchidos, queijos e fumados por serem mais rápido, no entanto compensámos esta refeição ligeira com a sopa (bem preenchida, à moda minhota), que comemos sempre e uma peça de fruta ou um iogurte como sobremesa. A fruta está sempre presente em casa e insistimos bastante com os filhos para comerem, pelo menos, uma peça de fruta, no final das refeições. O leite, é mais utilizado nos pequenos-almoços e os filhos, nesta refeição, utilizam muito os cereais como acompanhamento. Procuramos evitar os enlatados, os refrigerantes (no entanto, os filhos preferem os refrigerantes à água e por isso comprámos aqueles mas em quantidade reduzida) e a comida muito condimentada, procurando evitar ao máximo a quantidade de sal utilizada, quer na confecção dos alimentos, quer na sua utilização à mesa.
Para eficiência energética, além de marquizarmos uma pequena varanda, colocamos janelas duplas. Isto tornou a casa mais equilibrada em termos de temperaturas, principalmente no inverno, já que de verão nunca foi uma casa muito quente. Além disso calafetamos as portas e janelas com uma esponja isolante apropriada.
Evitámos ter luzes acesas desnecessariamente e também acender todas as lâmpadas nos compartimentos que tenham candeeiros de duplo interruptor. Em tempos tivemos um regulador de intensidade para o candeeiro da sala de estar, mas avariou e não o substituímos por outro igual, devido ao preço. Temos especial atenção aos stand-by dos aparelhos com comando remoto, desligando-os sempre no botão do próprio aparelho. Como forma de poupar mandamos instalar contadores bi-horários, que à noite, que é quando estamos mais em casa, torna o consumo mais barato. As máquinas de lavar funcionam por vezes, sem carga máxima, mas aproveitando o período nocturno.
Experimentámos as lâmpadas economizadoras mas, a sua utilização não foi do agrado de todos. Apesar de informações em contrário, fiquei com a impressão de que a luz fornecida não é a mesma e a ser, é de cor diferente. O seu alto custo, não é muito recompensador em relação à lâmpada incandescente. Tivemos algumas que fundiram em breve tempo e assim a sua utilização não compensou. No caso dos equipamentos domésticos, a grande diferença de preço entre equipamentos classe A++ e os de classe, por exemplo, D, não é muito convidativo a que se opte por os mais eficientes. Quanto tempo precisaremos de os utilizar para recuperar a diferença de preço? Sabendo que estes equipamentos terão um período de vida de 8 anos.
Ajuda a poupar energia, além de ser higiénico, a limpeza dos fornos e placas. Assim como a abertura das portas dos fornos e frigoríficos, só quando é necessário.
Certos conselhos não são de todo possíveis. Não vamos cozinhar um bom refogado sem o “lume” ao máximo e de panela tapada e certamente não vamos fazer uma boa fritada numa sertã com tampa!
A separação de resíduos também é prática corrente, até para sensibilização dos filhos. No entanto é frustrante, por vezes ver que a recolha destes resíduos, pelas entidades competentes, não é a mais satisfatória.
A insistência de alguns clientes, leva-me a construir sites web. Registo-me em nome individual e entro numa área do design gráfico, um pouco diferente da que conheço. Com as aplicações gráficas necessárias começo então a construir pequenos sites informativos. Mais uma vez auto-didata, as primeiras dificuldades começam com os tamanhos das imagens a enviar para a Internet, que devem ser com boa qualidade, mas com uma resolução mais baixa que a utilizada na impressão em papel. A forma de trabalhar com elas é diferente, mas com os conhecimentos que tenho nesta área, resolvo facilmente a questão. Baseado nestas dificuldades, inicio um blogue, onde comento alguns casos mais pertinentes da relação com clientes. Também construo uma página no site da empresa onde explico alguns fundamentos da área gráfica. Com a massificação de computadores pessoais, qualquer pessoa quer fazer os seus próprios impressos, por vezes sem os conhecimentos técnicos devidos. Estas duas páginas ajudam, nalgum modo, essas pessoas.

Há já várias décadas, que estudiosos se dedicam a resolver a melhor forma de apresentar a legibilidade dos textos impressos. O corte da letra, as patilhas (ou serifas - os pequenos traços que enfeitam as hastes das letras), a grossura do traço, o peso (normal, semi-bold, bold e bold pesado), a altura da letra em relação à sua largura e o contraste da cor da impressão com a cor do suporte, determinam a facilidade de leitura. Assim a boa prática da composição diz-nos que para texto corrido de jornais e revistas a tipografia deve ser patilhada, mas sem exagerar A patilha ajuda a juntar as letras numa palavra ou até num conjunto delas e como nós lemos palavras ou grupo delas (só as pessoas com fraca alfabetização soletram ao ler) torna-se facilmente legível uma página de jornal ou de revista. Também o contraste entre as partes finas e grossas das letras não deve ser exagerada (bodoni ou garamont). A fonte “times”, preferencial de muitas pessoas, é particularmente sensível a este facto, já que as partes finas por vezes tornam-se imperceptíveis ou até desaparecem na impressão e por isso a leitura torna-se maçadora para o leitor. Alguns tipógrafos usam estes tipos expandindo-os um pouco (contudo esta formatação só se encontra disponível em aplicações profissionais de topo). Também deve pesar na escolha a altura da letra, para o boa distinção dos “h” dos “n” e dos “d” dos “o”. Eu gosto particularmente da “georgia” (a utilizada neste sítio, que será substituída automaticamente pela "times new roman" ou quaquer outra letra patilhada caso aquelas não estejam instaladas no sistema do utilizador). Os nomes das fontes tipográficas derivam, na maior parte das vezes, dos nomes dos seus desenhadores.
A letra “direita” ou sem serifa (do tipo “helvetica ou “arial”) deve-se evitar em textos de leitura. A falta da patilha faz o leitor começar a ler letra a letra e isto vai tornar-se cansativo. Deixam-se estes tipos para títulos e sub-títulos e aconselha-se a usar um corpo acima dos 18 pontos (medida tipográfica - ponto tipográfico é a unidade de medida utilizada na imprensa. Equivale aproximadamente a 0,376 milímetros. Existem outras unidades de medida, principalmente nos países anglófonos).
Famílias de fontes
Há outras fontes, cursivas, inglesas, góticas, caligráficas mas deixam-se mais para outro tipo de obra gráfica, como cartões de visita, diplomas, convites de toda a espécie e trabalhos mais elaborados que requerem pouco texto. Por vezes, em certas obras literárias, usam-se para os prólogos e epílogos. Noutras, como início de parágrafo, utiliza-se uma letra gótica.
Diploma
O tipógrafo também deve ter em atenção o entrelinhamento, que não deve ser inferior a 1,30 do corpo de letra sendo esta aconselhável entre os 10 e os 12 pontos. Deve ter também em atenção a hifenização que não deve ser efectuada em linhas consecutivas. A atenção aos "orfãos" e "viúvas", o evitar que a primeira ou a última linha de um parágrafo que aparece sozinha no fim ou no príncipio de uma página, é sinal de uma composição atenta. Também a cor de impressão e a cor do papel de suporte é importante. É boa prática a escolha de um cinza muito escuro (entre 80 a 90 % de preto) sobre papel ligeiramente natural (pardo ou creme muito claro).
Algumas destas boas práticas da composição acompanham-nos agora na edição electrónica proporcionada pelo computador, facilitadas porque já são incorporadas no automatismo das aplicações gráficas. O uso de folhas de estilo são também uma forma auxiliar, de ao longo de uma publicação, mantermos uma composição limpa e sempre dentro dos mesmos parâmetros.
A Internet é agora, em termos de navegadores, muito diversificada, (além do Explore temos o Chrome, o Firefox, o Safari, etc.) o que também dificulta a programação, já que "leêm" as páginas de diferentes maneiras, no entanto, uma tecnologia recente facilita esta formatação. As CSS (cascade style sheets ou folhas de estilo em cascata) para além de permitirem configurar num só local toda a formatação de um sítio, ao contrário de antigamente em que se fosse necessário fazê-lo teríamos de percorrer todas os elementos das páginas, possibilita com algumas excepções a programação conforme o browser do utilizador. Curiosamente, foi ao pretender imprimir este portefólio que deparei com mais diferenças entre os browsers, os quais em certas versões não entendem todas as normas CSS. Assim com base em linguagem html, css e um pouco de php, já consigo construir sítios com um pouco de qualidade. Esta área também me criou curiosidade ao nível dos servidores de Internet, os computadores que nos fornecem a informação que procuramos. Os dns, os ip, deixam de ser segredos para mim. O próximo passo é montar um servidor para alojar os sites que vou fazendo e com a ajuda de alguns amigos e do primo Joaquim, preparo um outro computador para servir a Internet. Sobre o Windows, carregámos um software servidor livre - Apache - que se mostra muito fiável no desempenho e põe na rede os sites entretanto construídos. Para além disso coloco também um servidor de correio, para os domínios que alojo.
A Joana, a Luciana e o João recentemente
Após um exame médico de rotina, detectam uma alteração no tamanho de um nódulo, que a Luciana tem no peito há muitos anos. Depois de uns exames mais aprofundados, decidem retirá-lo e com isso retiram também, na sua totalidade, a mama. A operação acaba por correr bem e ela está muito bem disposta ao sair do recobro, pedindo logo comida, levando as enfermeiras a comentar o facto. Nos dias que se seguem, as visitas ficam admiradas com a boa disposição, ao ponto de dizerem "vimos aqui animá-la e ela é que nos anima a todos". Estando tudo a correr bem, vamos para casa. Não sei como vou eu reagir a esta nova realidade, mas nos primeiros dias, logo após a operação, tudo corre bem. Começa os tratamentos de quimioterapia, a que reage muito bem em termos físicos, ao contrário do meu pai que ficava arrazado. No entanto, o comportamento familiar começa a degradar-se, tanto comigo, como com os filhos. Será do efeito dos químicos que recebe ou da alteração hormonal por causa da ablação completa? Entretanto eu começo a não saber como reagirei no caso de na intimidade tocar onde antes estava qualquer coisa de muito feminino. E se eu, inconscientemente, reagir mal? Qual será a reacção da parte dela? Pensará que a rejeito? Não sei se ela reparou na minha atitude mais reservada, mas começa a reagir de modo mais emotivo a tudo que a rodeia. Em sequência, consulta psicólogos e psiquiatras, que tentam ajudá-la na recuperação emocional. Afinal, a reacção dela à doença e ao seu tratamento tinha sido muito positiva e o “luto” que não foi feito na altura, manifesta-se agora. É uma altura muito complicada e não sei que atitude tomar!
A minha postura perante esta doença é muito crítica. Os meus pais morreram devido a ela e tenho muito receio do futuro. Contudo os avanços da medicina nesta área têm sido absolutamente fantásticos e a vigilância e a prevenção nos dias que correm é muito superior à que se tinha na altura. Na Luciana, a doença foi diagnosticada a tempo. Nos meus pais não, a doença apareceu e por diversos motivos não recorreram aos médicos de imediato. Em particular, no caso da mãe. Apesar de sintomas de que qualquer coisa não estava bem, prolongou essa situação durante, talvez, muito tempo e só quando chegou a um ponto extremo, consultou os médicos e aí, já seria tarde para retorno.
No caso da Luciana o pequeno nódulo foi comunicado de imediato aos médicos e foi observado regularmente. Só quando aumentou de tamanho foi intervencionado e retirado a tempo de não desenvolver metásteses, pelo menos por enquanto
Com o passar do tempo e com a sociedade a encarar estes temas de uma forma mais aberta a mulher está mais consciencializada a procurar ajuda de imediato. O nível educacional da população é superior, a demontrá-lo temos a quantidade de matrículas em universidades e politécnicos que é 5 vezes maior do que no final dos anos 70 do sec. passado. Antes, por desconhecimento, pudor e educação, até exageradamente católica, mercê da grande influência da Igreja sobre a população em geral, não era comum a mulher expor-se aos médicos necessariamente úteis em caso de certas doenças, em especial que mexessem com a sua intimidade.
A evolução tecnológica dos cuidados médicos evoluiu muito nos últimos anos. Os rastreios são cada vez mais amplos e mais fáceis de chegar à população em geral. Também os tratamentos quimioterapêuticos se tornaram menos invasivos e por conseguinte mais fáceis de suportar pelos doentes.
Estamos mais consciêncializados, mercê das campanhas públicas, para o auto-exame de prevenção do cancro da mama e para a verificação de sintomas próprios de outros cancros e a recorrermos aos médicos logo que eles se manifestem.
Ao contrário de outras doenças, no cancro não podemos arriscar a apontar grupos de risco. O cancro no pulmão, apesar de haver mais hipóteses de se desenvolver nos indivíduos fumadores também ataca em não fumadores, o cancro de pele apesar de se desenvolver em pessoas de pele clara não se pode excluir os de pele escura e no cancro da mama não podemos excluir os homens. Por isso os rastreios e a consequente descoberta dos tumores em fase inicial é fundamental para a sua eventual cura.
O grupo de teatro
Também a convite de uns amigos de longa data e de alguns que conheço agora, integro-me num grupo de teatro amador. O grupo tem uma revista à portuguesa, quase a estrear e não há cenários. Lembram-se de fazer cenários projectados e recorrem mim para o efeito. Com muito gosto, inicio-me mais uma vez, numa área não completamente nova mas diferente. Experimentando diversas técnicas durante os ensaios, lá consegui, em tempo, criar 18 cenários (um por cada quadro da revista, posteriormente montados num ficheiro powerpoint) para apresentar na estreia. O meu envolvimento nesta actividade também me ajuda a ultrapassar o problema que tenho em casa. Os ensaios e as actuações quebram um pouco a rotina diária. Actuando graciosamente, a revista é exibida, entre Maio de 2009 e Outubro de 2010, levando um pouco de alegria e boa disposição a vários locais. Um grupo heterogéneo de pessoas que se complementam e fazem teatro pelo simples gosto de o fazer.
Neste período de tempo, crio um site para o grupo que, conjuntamente com a página no facebook, que administro, torna o grupo mais conhecido do que era quando eu entrei. Está no fim esta aventura, certamente foi mais uma útil experiência para mim. Começamos outra. Aproveitando os melhores quadros de anteriores revistas apresentadas pelo grupo, estamos a apresentar uma nova produção com os cenários digitais também elaborados por mim.
A quimioterapia e consequente radioterapia acabam, emocionalmente estabiliza e conversando abertamente, o nosso relacionamento começa aos poucos a normalizar. Essas conversas servem também para nos conhecermos melhor. Assuntos normalmente reservados, são falados agora mais abertamente. Também ela compreende a minha hesitação e isso ajuda-me a ultrapassá-la. A perspectiva da vida depois da doença é diferente e a Luciana começa a viver o dia-a-dia mais intensamente.
Com os filhos não tão dependentes de nós, começamos novamente a sair, com regularidade, para umas sessões de cinema, de teatro, com os amigos ou simplesmente ir ao café. Acho que estamos no bom caminho. Ainda há pouco, fomos ver a peça “Romeu e Julieta” pelo Moscow Ballet. Nunca tínhamos visto bailado ao vivo e adorámos. Retiramos um pouco do orçamento familiar para esta actividade lúdica. A publicidade em jornais e revistas, além da publicidade estática, levou-nos a procurar ver este espectáculo. Não deixando de lado a televisão, procurámos não depender muito tempo com ela e não deixando de procurar assistir a estes eventos por causa dela.
A televisão também é um veículo fundamental no acesso à cultura por parte dos indivíduos. A televisão generalista não é contudo farta na apresentação de programas culturais e o canal que mais apresenta estes programas é, nas tabela, o menos visto. A oferta da televisão por cabo é mais dedicada a estes temas, com canais sobre história nacional e mundial, viagens culturais, geografia e zoologia. Mas nem assim atingem uma popularidade acentuada. A maioria das pessoas está mais interessadas em “big brothers” e em novelas que nunca tem fim, portuguesas, brasileiras e venezuelanas com traduções horríveis.
A televisão, a rádio e a imprensa podem influenciar e manipular o indivíduo. Nos anos 30 e 40 o regime nazi aproveitou esta técnica de maneira a manipular multidões. Foi talvez o inicio da utilização abusiva destes meios para o poder político influenciar as populações.
Na altura do Estado Novo, o poder influenciou a opinião publica, utilizando a rádio, a imprensa e até com aqueles comentários que apresentavam no inicio das sessões de cinema. Comentários favoráveis à guerra colonial, inaugurações disto ou daquilo, exibições militares, paradas da Legião, da Mocidade ou as actividades do Movimento Nacional Feminino eram os temas tratados nesses documentários apresentados em todas as salas de cinema espalhadas pelo país.
Com o correr dos anos as técnica foram se aperfeiçoando no sentido de cada vez mais influenciar o indivíduo pelos “media”. No entanto, na medida em que as pessoas se desenvolvem, também a indiferença se acentua em relação ao que lhe é tentado transmitir pelos meios de comunicação social. Também o espaço temporal com que as notícias nos são transmitidas não nos permite absorvê-las todas. Um noticiário com um terramoto na Ásia, seguido de uma notícia de um acidente de autocarro no Brasil e de uma descoberta científica nos EUA, vai fazer o telespectador perder-se e esquecer certos detalhes. Já ninguém se espanta com um massacre no outro lado do mundo.
Claro que a comunicação social tem papel fundamental na opinião mas só se o indivíduo estiver predisposto. Conteúdos que contrariem as suas crenças e convicções são postos de lado imediatamente.
Numa altura em que a televisão aposta em novelas e desenhos animados cáusticos de por vezes até violentos, serão estes programas uma boa influência? Nas novelas que tentam recriar a nossa sociedade actual, a quantidade de casais divorciados ou a caminho, as crianças desalinhadas, os adolescentes problemáticos, contribuem para o pensar de uma sociedade que por vezes se esquece que aquilo é uma ficção? Que a realidade é bem diferente? Quantas vezes se ouve as pessoas a comentar, preocupadas, o desenvolvimento da novela? E quantas vezes os exemplos das novelas e dos desenhos animados saltam para a realidade?
Por outro lado temos os programas com efeito na educação como documentários e debates em que se procura aprofundar uma melhor cultura.
A publicidade também aposta muito nestes veículos promocionais, tentando influenciar o público a comprar determinados produtos, seja brinquedos, detergentes ou produtos para emagrecimento.
Na política a influência dos media pode fazer a diferença entre um considerarmos um político simpático ou menos simpático. Até aqui, neste cantinho, temos casos de jornalistas afastados das suas funções por pressões políticas. Sabemos que a manipulação de notícias é um facto. Por isso, agora com vários canais informativos, podemos e devemos ver a mesma notícia em vários. Se um tentar manipular uma notícia, se o observador não reparar, certamente os canais concorrentes a vão denunciar a fraude ou omissão, para proveito público mas também para benefício próprio.
Também a exposição da vida de algumas personagens é valorizada pela comunicação social. O mercado e o lucro dos media faz com que a vida destes "famosos e menos famosos" sejam devassadas sem limite. O caso da Princesa Diana é talvez o mais conhecido. Desde o seu casamento real até ao acidente que causou a sua morte, a sua vida foi relatada ininterruptamente, desde o abandono do marido até ao refazer da sua vida sentimental tudo foi noticiado um sem número de vezes. Sem esquecer as "vedetas" criadas por concursos de TV, que depois, seguem, com alguma raras excepções, uma efémera carreira mediática.
Alguns governantes tentam censurar a comunicação social, suprimindo, amputando certas notícias que possam causar mau estar na opinião que os seus povos têm sobre eles mesmos. Até como forma de defender a sua própria segurança interna. Em várias ocasiões os jornalistas foram forçados a dar informações erradas por forma do poder político aproveitar essa mesma desinformação em benefício próprio. Noutras aproveitando a informação para esconder outra informação. Os casos Maddie e Joana, os Jogos Olímpicos e os mundiais de futebol desviaram e desviam a atenção das populações para temas bem mais importantes como crise económica instalada.
Mas, nos dias de hoje a tentativa de manipulação da informação pode ser perigosa. Os meios ao alcance das pessoas tornam cada vez mais difícil o controlo dessa informação pelos governantes, quer se chamem Chavez ou Obama. A internet e a rápida transmissão das notícias fazem com que as instituições, quer sejam políticas ou informativas, tenham cada vez mais, de conquistar a confiança das pessoas.
O grupo de teatro amador de que faço parte, mesmo actuando graciosamente, tem dificuldade em preencher salas com pouco mais de 100 lugares. As pessoas não aderem a este tipo de espectáculos, que coincidem com os horários nobres da TV. Também não temos a publicidade devida e mesmo a que obtemos, não é passada na TV. Por vezes as rádios locais ajudam a essa divulgação e os “sites” onde podemos passar a mensagem não são tão consultados por uma franja da população mais carenciada e que estaria mais receptiva a este tipo de eventos. Existe um bom leque de espectáculos do género na cidade; nas juntas de freguesia e em algumas colectividades, existem bons auditórios mas, nem sempre, aproveitados da melhor forma. Os espaços para publicitar estes eventos nos “sites” de algumas câmaras municipais e juntas de freguesia não são actualizados com a devida frequência e não raras vezes o espectáculo passa e a publicidade ainda não foi publicada. Não há maior frustração para os actores amadores, que retiram muito tempo à família e ao seu descanso para ensaios e representações, deparar com uma plateia quase vazia. Os responsáveis da revista publicada trimestralmente pela Câmara Municipal do Porto poderiam dar uma atenção especial a este tipo de eventos que também fazem parte da cultura da cidade. Não são só os espectáculos grandiosos nos Teatros e Cinemas de referência que o merecem.
Com a Joana em Espanha, o meio de comunicação preferencial passa pelo MSN e pelo Skype. Como passo muito tempo com um PC, estes dois aplicativos estão sempre ligados e, por isso, em qualquer hora escrevo com ela.
A massificação do computador pessoal veio revolucionar a forma de comunicação entre as pessoas. Ainda me lembro daquelas cartas que a mãe e a tia Laurinda trocavam entre elas... «Espero que esta carta vos vá encontrar de boa saúde, nós por cá menos mal»...Sempre o mesmo inicio e o mesmo fim...e dos telegramas de condolências que se trocavam... e das cartas de amor dos nossos avós... Agora, são SMS para tudo criando um verdadeiro negócio com a venda de textos para este serviço. Além das operadoras de telemóveis, existem portais exclusivamente dedicados à comercialização de SMS pré-fabricadas para todos os eventos, quer seja o aniversário do amigo, da esposa, de Bom Natal...Todas repetidas um sem número de vezes. Do velhinho postal, ficaram as recordações.
Profissionalmente, saí da empresa. Devido à dificuldade dos tempos que correm, começaram a despedir. No entanto em certas ocasiões em que, pontualmente o trabalho aparece com mais frequência, recorrem a trabalho à “hora” de pessoas actualmente na situação de desemprego. Prática, naturalmente, proibida, mas certamente utilizada em muitos sítios. Uma maior flexibilização das leis de trabalho seria necessária nestes tempos de maior desemprego.
O trabalho deixa de valer por si mesmo mas pela pequena compensação que o trabalhador aufere e pela pequena contribuição que dá à empresa. É extremamente frustrante, dia após dia, acordar e não ter um objectivo definido, uma tarefa para cumprir, e ver as horas passar. Este não objectivo e a falta da sociabilização e de participação, além de poder criar um maior índice de criminalidade, cria, em certos indivíduos, motivo para crises psicológicas, depressão, angústia, conflitos familiares que serão compensados com o excesso de tabaco, álcool e tranquilizantes, criando uma nova forma de doença, ainda não reconhecida, pela sociedade em geral. Para além do subsídio e de pôr o desempregado a correr para os centros de emprego, pouco se faz para evitar a sua auto exclusão social resultante da perda de referências e objectivos. Certamente, não será fácil de resolver este problema, que se agrava cada dia que passa mas, se nada começar a ser feito, ainda será um problema maior. O contínuo desenvolvimento de programas como "as novas oportunidades" seria uma boa maneira de criar no indíviduo a auto-estima necessária para enfrentar novos desafios. A frequência de cursos técnicos, será benéfico para eles próprios, já que não perdem as referências e para a sociedade em geral que ganha na qualidade. Um dos grandes problemas do país é, ainda, o pouco grau de formação profissional existente. Portugal é vasto em empresas familiares, que não têm a devida profissionalização. Em muitos casos os conhecimentos passam de geração em geração, sem o devido acompanhamento de entidade exterior, que mostrem os desenvolvimentos naturais das profissões. Se é certo que este conhecimento herdado é fundamental, sem a modernização, as empresas acabam por morrer.
Foi aqui que pela segunda vez pensei em emigrar. A primeira tinha sido na altura em que trabalhava no comércio e foi convidado para trabalhar em Angola, já independente mas em guerra civil o que, aliado ao falecimento recente da mãe, me fez recusar.
Agora, na falta de trabalho voltei a pensar em procurar, no estrangeiro colocação. Mas a política de acolhimento dos países que em certa altura foram alvo dos nossos imigrantes também mudou bastante, devido aos problemas internos desse mesmo países. A política do estado em relação à migração, ou é pouco visível ou não vai além das comemorações do 10 de Junho. Os conhecimentos e os recursos dos nossos emigrantes, seriam úteis para promover empresas e produtos portugueses junto das comunidades em que eles estão inseridos. Também, se na política fiscal, se incentivasse a criação de empresas por emigrantes que regressassem ao seu país, podia-se incrementar o emprego em certas zonas do país mais carenciadas. Também cada vez mais os nossos doutorados, especialmente no campo da investigação, começam a trabalhar no estrangeiro, algumas das vezes nem por causa das condições financeiras que lhes oferecem, mas pelos recursos que os países de destino lhes poêm à disposição. Se as nossas universidades tiverem os mesmo meios, certamente que alguns poderão voltar, trazendo a mais-valia do conhecimento adquirido no estrangeiro. No entanto, para além de "palmadinhas nas costas" e discursos bonitos, pouco se tem feito.
Tentei um outro meio, gestor de eventos, que no entanto não correu muito bem, sendo despedido quase de seguida por não estar de acordo com a linha seguida. Também na falta do relacionamento profissional que tinha na gráfica, com clientes desta, acabo com a parte dos sites, já que não faz sentido esta sem aquela.
com a Luciana, recentemente
Chegado aqui, tento completar o 12.º ano (tendo já concluído, com aproveitamento, o módulo de 50 horas de inglês de aperfeiçoamento) um desejo que já há vários anos tenho vindo a adiar. Ao consegui-lo, talvez, tentar a universidade, talvez num curso de história...
Poderia ter falado de muitas mais coisas e das coisas que falei de outra maneira, mas como dizia a minha sogra "quando vimos é que deveríamos ir".
Emociono-me com facilidade e por vezes, ao escrever este percurso me vieram as lágrimas aos olhos, mas se não servir para mais nada, que sirva para espantar fantasmas antigos e para que os meus me conheçam um pouco melhor.
da cassete ao dvd
Gostaria de ter falado do meu gosto pela música, pelo cinema, pelos livros. Em tudo aprendi um pouco. Gostaria de ter falado de outras pessoas que conheci e de outras que não deveria ter conhecido. Com todos, também aprendi.
Acho que não me arrependo de nada do que fiz e disse, mas arrependo-me, por vezes, de coisas que não fiz e que não disse.
Não gosto de tratar as pessoas por diminutivos, dar um nome aos filhos para depois lhe chamar outro não sei que sentido faz! Não gosto de maus vizinhos, nem de "bocas abertas". Não gosto de explicar as coisas duas vezes. Não gosto de comprar roupa, por isso, é a Luciana que ma compra, como antes o fizeram a minha mãe e a minha avó. Não gosto de centros comerciais, prefiro a loja da rua para comprar. Gosto de ir ao cinema, mas onde? Acabaram com as salas de cinema todas e agora servem-nos sessões ao metro, nos centros comerciais, sem intervalo, com uma data de pessoas à nossa volta a comer pipocas. Ainda se não fizessem barulho ao mastigá-las!
Estábulo do presépio construído por mim
Gosto de comprar ferramentas, por isso tenho alicates, alicatezinhos, martelos, martelinhos e marretas, chaves de fendas, de bocas e inglesas...Gosto de bricolagem, por não encontrar um estábulo para o presépio, construí um.
Gosto de jogar uma "suecada" com os meus cunhados, ainda que eles pensem que estou sempre alheado do jogo. Gosto dos convívios que fazemos de vez enquanto.
Para o futuro, estou a preparar a criação do próprio emprego numa versão mais pequena do que tive anteriormente, mas integrando a impressão digital, uma área cada vez mais interessante. Estou também em negociações para, em franchising, trabalhar um portal de negócio, ideia há muito na minha cabeça.
Gostaria, também, de encontrar pessoas na área do software que estivessem dispostos a transformarem as minhas folhas de cálculo numa aplicação para empresas do ramo. Gostaria, também, de aprender mais sobre aplicações gráficas.
E como disse aquele governador romano acerca dos Lusitanos:
- Que raio de povo este, nem se governa nem se deixa governar.
E eu sou lusitano, lembram-se?
Mas esta "coisa" não acaba nem aqui nem assim...
A paginação deste trabalho pode não ser a mais correcta. Deve-se ao facto de os browsers de navegação em certas versões não entenderem ainda todas as normas CSS